Exame Citopatologia vaginal
Exame Citopatologia vaginal
O exame citopatológico vaginal, comumente conhecido como exame de Papanicolau, é um procedimento essencial para a detecção precoce de alterações celulares no trato genital feminino, especialmente no colo do útero. Desenvolvido por Georgios Papanikolaou na década de 1940, o exame tornou-se uma ferramenta fundamental na prevenção do câncer cervical, uma das principais causas de mortalidade entre mulheres em todo o mundo. Este artigo aborda as bases teóricas e práticas do exame citopatológico vaginal, destacando sua importância, metodologia, interpretação dos resultados e impacto na saúde pública.
Anatomia e Fisiologia do Trato Genital Feminino
O trato genital feminino é composto por várias estruturas, incluindo a vagina, o colo do útero, o útero, as trompas de Falópio e os ovários. O colo do útero, em particular, é uma área crítica para o exame citopatológico, pois é o local onde ocorrem a maioria das alterações celulares que podem levar ao câncer cervical. O colo do útero é revestido por dois tipos principais de epitélio: o epitélio escamoso, que cobre a ectocérvice, e o epitélio glandular, que reveste o canal cervical.
Patogênese das Alterações Celulares
As alterações celulares no colo do útero estão frequentemente associadas à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), especialmente os tipos de alto risco, como o HPV 16 e 18. O HPV pode causar displasia cervical, que é uma alteração nas células do colo do útero que pode evoluir para câncer se não for detectada e tratada a tempo. O exame citopatológico vaginal é capaz de identificar essas alterações celulares em estágios iniciais, permitindo intervenções precoces.
Histórico e Desenvolvimento do Exame
O exame citopatológico vaginal foi desenvolvido por Georgios Papanikolaou como um método para detectar células anormais no colo do útero. O método original envolvia a coleta de células cervicais, sua fixação em lâminas de vidro e a coloração para visualização microscópica. Com o tempo, o exame evoluiu, incorporando técnicas mais avançadas, como a citologia em meio líquido e a detecção de DNA do HPV.
Metodologia do Exame Citopatológico Vaginal
Preparação do Paciente
Antes da realização do exame, é importante que a paciente seja orientada a evitar relações sexuais, duchas vaginais e o uso de medicamentos vaginais por pelo menos 48 horas. O exame não deve ser realizado durante o período menstrual, pois o sangue pode interferir na qualidade da amostra.
Coleta da Amostra
A coleta das células cervicais é realizada durante o exame ginecológico. O profissional de saúde utiliza uma espátula de Ayre e uma escova cervical para coletar células da ectocérvice e do canal cervical, respectivamente. As células são então transferidas para uma lâmina de vidro (citologia convencional) ou para um frasco contendo meio líquido (citologia em meio líquido).
Processamento e Análise da Amostra
Na citologia convencional, as células são fixadas na lâmina com álcool e coradas com os métodos de Papanicolau ou Hematoxilina-Eosina. Na citologia em meio líquido, as células são suspensas em um meio preservativo e posteriormente processadas para a criação de uma monocamada celular em uma lâmina. A análise microscópica é realizada por um citopatologista, que identifica e classifica as células de acordo com sua morfologia.
Interpretação dos Resultados
Classificação de Bethesda
A classificação de Bethesda é o sistema mais utilizado para a interpretação dos resultados do exame citopatológico vaginal. Ele categoriza os achados citológicos em:
Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade (NILM): Ausência de alterações celulares significativas.
Anormalidades das células escamosas:
Atipias de significado indeterminado (ASC-US): Alterações celulares que não podem ser claramente classificadas como benignas ou malignas.
Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL): Alterações celulares leves, geralmente associadas à infecção por HPV.
Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL): Alterações celulares mais graves, com maior risco de progressão para câncer.
Anormalidades das células glandulares:
Atipias das células glandulares (AGC): Alterações nas células glandulares do endocérvice ou endométrio.
Adenocarcinoma in situ (AIS): Carcinoma pré-invasivo das células glandulares.
Seguimento e Conduta Clínica
A conduta clínica após o exame citopatológico vaginal depende do resultado obtido. Para resultados NILM, o rastreamento regular é recomendado. Para resultados anormais, como ASC-US, LSIL, HSIL ou AGC, podem ser necessários exames adicionais, como colposcopia, biópsia ou teste de DNA para HPV.
Impacto na Saúde Pública
Redução da Mortalidade por Câncer Cervical
A implementação do exame citopatológico vaginal em programas de rastreamento populacional resultou em uma significativa redução da incidência e mortalidade por câncer cervical em diversos países. A detecção precoce de lesões pré-cancerosas permite intervenções terapêuticas eficazes, prevenindo a progressão para câncer invasivo.
Desafios e Limitações
Apesar de sua eficácia, o exame citopatológico vaginal enfrenta desafios, como a cobertura insuficiente em populações de baixa renda, a variabilidade na qualidade da coleta e interpretação das amostras, e a necessidade de infraestrutura adequada para a realização do exame. Além disso, a introdução da vacinação contra o HPV pode alterar a epidemiologia do câncer cervical, exigindo ajustes nas estratégias de rastreamento.
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O exame citopatológico vaginal continua sendo uma ferramenta essencial na prevenção do câncer do colo do útero. Com bases teóricas sólidas e uma metodologia bem estabelecida, o exame permite a detecção precoce de alterações celulares que podem evoluir para câncer. Apesar dos desafios, sua implementação em programas de rastreamento tem um impacto significativo na redução da mortalidade por câncer cervical, destacando a importância de políticas públicas que garantam o acesso universal a esse exame.
Referências
Papanicolaou, G. N. (1942). A new procedure for staining vaginal smears. Science, 95(2469), 438-439.
Solomon, D., Davey, D., Kurman, R., Moriarty, A., O'Connor, D., Prey, M., ... & Young, N. (2002). The 2001 Bethesda System: terminology for reporting results of cervical cytology. JAMA, 287(16), 2114-2119.
Wright, T. C., Massad, L. S., Dunton, C. J., Spitzer, M., Wilkinson, E. J., & Solomon, D. (2007). 2006 consensus guidelines for the management of women with abnormal cervical cancer screening tests. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 197(4), 346-355.
World Health Organization. (2020). Cervical cancer screening and management of cervical pre-cancers: WHO guidelines. Geneva: World Health Organization.
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