BRCA1 e BRCA2

 BRCA1 e BRCA2


O câncer é uma das principais causas de morte no mundo, com vários fatores envolvidos no seu desenvolvimento, incluindo fatores ambientais, estilo de vida e predisposição genética. Estima-se que aproximadamente 5 a 10% dos cânceres diagnosticados sejam de origem hereditária, ou seja, são causados por mutações genéticas transmitidas de geração em geração. Nesse contexto, o exame genético para detecção de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 tornou-se uma ferramenta fundamental para a avaliação do risco de câncer hereditário, especialmente para os tipos de câncer mais comuns, como os de mama, ovário, próstata e pâncreas.

Os genes BRCA1 e BRCA2 são responsáveis por codificar proteínas envolvidas no reparo do DNA danificado e na manutenção da estabilidade genômica. Mutations nesses genes podem levar a uma falha no reparo do DNA e, consequentemente, ao acúmulo de danos genéticos nas células, o que pode aumentar o risco de câncer. Portanto, o exame para identificação de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 desempenha um papel essencial na medicina preventiva, fornecendo informações cruciais sobre o risco genético do paciente, orientando estratégias de rastreamento e decisões terapêuticas personalizadas.


Os Genes BRCA1 e BRCA2: Estrutura e Função

Os genes BRCA1 e BRCA2 foram identificados nos anos 1990 como sendo responsáveis por aumentar a predisposição para certos tipos de câncer, especialmente o câncer de mama e de ovário. Ambos os genes possuem funções essenciais no reparo de danos ao DNA, desempenhando um papel fundamental na manutenção da estabilidade genômica.

 BRCA1: Função e Localização

O gene BRCA1 está localizado no cromossomo 17 e codifica uma proteína que está envolvida no reparo de quebras de DNA de cadeia dupla. O BRCA1 desempenha um papel central na reparação por recombinação homóloga, um processo vital para corrigir danos no DNA e garantir a integridade do material genético. A proteína BRCA1 também está envolvida no ciclo celular, especificamente no ponto de verificação G1/S, e em processos de apoptose, contribuindo para a eliminação de células danificadas.

Quando ocorre uma mutação no BRCA1, a proteína resultante geralmente é não funcional ou parcialmente funcional, o que impede o reparo adequado do DNA danificado, aumentando a probabilidade de mutações adicionais e, portanto, o risco de câncer.

 BRCA2: Função e Localização

O gene BRCA2 está localizado no cromossomo 13 e codifica uma proteína que também é crucial para a recombinação homóloga, assim como o BRCA1. A proteína BRCA2 tem uma interação direta com outras proteínas envolvidas no reparo de DNA, como RAD51, que promove o reparo das quebras de DNA. A perda da função do BRCA2, como ocorre em mutações, resulta em um defeito no reparo do DNA e no aumento do risco de várias formas de câncer, incluindo o câncer de mama e ovário, assim como o câncer de pâncreas e próstata.

Embora a função de BRCA1 e BRCA2 no reparo do DNA seja semelhante, as mutações nos dois genes estão associadas a perfis de risco diferentes, com o BRCA1 mais frequentemente associado a câncer de mama triplo-negativo e o BRCA2 relacionado a um risco elevado de câncer de mama masculino.

 Mutações nos Genes BRCA1 e BRCA2 e o Risco de Câncer

As mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 estão entre as causas mais comuns de câncer hereditário, especialmente os de mama e ovário. Estima-se que mulheres com uma mutação em um desses genes tenham um risco de 50 a 85% de desenvolver câncer de mama durante a vida, significativamente mais alto do que a média da população.

 Câncer de Mama e BRCA1/BRCA2

A relação entre os genes BRCA1/BRCA2 e o câncer de mama é bem estabelecida. Mulheres portadoras de mutações no BRCA1 ou BRCA2 têm uma chance muito maior de desenvolver câncer de mama, muitas vezes em idades mais jovens (antes dos 50 anos). A mutação em BRCA1 está mais frequentemente associada ao desenvolvimento de câncer de mama triplo-negativo, um subtipo agressivo que não expressa os receptores de estrogênio, progesterona e HER2.

A mutação no BRCA2 também aumenta o risco de câncer de mama, embora em menor intensidade do que a mutação em BRCA1. No entanto, o câncer de mama associado ao BRCA2 tende a ser menos agressivo do que o tipo triplo-negativo associado ao BRCA1.

 Câncer de Ovário e BRCA1/BRCA2

Além do câncer de mama, as mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 também estão fortemente associadas ao risco aumentado de câncer de ovário. Mulheres com mutações nesses genes têm um risco de 20 a 50% de desenvolver câncer de ovário ao longo da vida, enquanto o risco na população geral é muito menor.

O câncer de ovário em mulheres com mutações de BRCA1 ou BRCA2 tende a ser diagnosticado em estágios mais avançados, quando as opções de tratamento são mais limitadas. A identificação precoce desse risco pode permitir estratégias preventivas, como a remoção dos ovários e trompas de Falópio após a conclusão da fertilidade.

Indicações para o Exame de BRCA1/BRCA2

O exame para detecção de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 é recomendado para indivíduos com um histórico familiar de câncer, especialmente se houver múltiplos casos de câncer de mama e ovário em parentes próximos. Além disso, o teste é indicado para indivíduos com câncer de mama diagnóstico precoce ou com características que sugerem uma predisposição genética, como o câncer de mama bilateral ou câncer de mama em homens.

 História Familiar de Câncer

Indivíduos com histórico familiar de câncer de mama, ovário, próstata ou pâncreas devem ser avaliados para o teste de BRCA1/BRCA2. A presença de múltiplos casos de câncer em uma família pode indicar a presença de uma mutação hereditária nesses genes, o que pode afetar o risco de outros membros da família.

 Câncer de Mama Bilateral e Masculino

O câncer de mama bilateral, ou seja, o desenvolvimento de câncer de mama em ambas as mamas, é um sinal forte de predisposição genética, particularmente em portadores de mutações em BRCA1 ou BRCA2. O câncer de mama em homens também está intimamente ligado a mutações nesses genes, sendo que homens com uma mutação no BRCA2 têm um risco elevado de desenvolver a doença.

 Métodos de Teste Genético para BRCA1/BRCA2

O teste genético para a identificação de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 pode ser realizado por meio de diferentes métodos, incluindo o sequenciamento de DNA e a análise de variantes específicas.

 Sequenciamento de DNA de Nova Geração (NGS)

A tecnologia de sequenciamento de nova geração (NGS) permite o sequenciamento simultâneo de múltiplos genes, o que é útil quando o teste é realizado como parte de um painel de câncer hereditário. O NGS é capaz de identificar tanto mutações comuns quanto raras nos genes BRCA1 e BRCA2 com alta precisão.

Análise de Exons Específicos e PCR

Em alguns casos, o teste pode ser realizado por meio da amplificação de exons específicos dos genes BRCA1 e BRCA2 usando a reação em cadeia da polimerase (PCR). Essa abordagem permite a detecção de mutações conhecidas que são comuns em determinadas populações ou famílias.

 Implicações Clínicas e Terapêuticas do Exame de BRCA1/BRCA2

A identificação de mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2 tem importantes implicações para o manejo clínico e terapêutico de indivíduos portadores dessas mutações.

Estratégias Preventivas

Indivíduos com mutações em BRCA1 ou BRCA2 podem optar por medidas preventivas, como a remoção profilática dos seios (mastectomia) ou dos ovários (ooforectomia) para reduzir significativamente o risco de câncer. Essas intervenções são particularmente importantes para mulheres que ainda não desenvolveram câncer, mas estão em risco elevado devido à mutação genética.

 Rastreamento Precoce e Monitoramento

Além das opções preventivas, o rastreamento precoce e o monitoramento rigoroso são cruciais para a detecção precoce do câncer. Mulheres portadoras de mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2 devem realizar exames de rastreamento, como mamografias, ressonâncias magnéticas e exames ginecológicos regulares, em idades mais precoces do que a população em geral.

Terapias Alvo e Personalizadas

O conhecimento das mutações BRCA1/BRCA2 também tem implicações para o tratamento de cânceres já diagnosticados. Por exemplo, inibidores de PARP, como o olaparibe, têm mostrado eficácia em pacientes com câncer de mama e ovário portadores de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. Essas terapias-alvo aproveitam a falha no reparo do DNA causada pelas mutações, aumentando a sensibilidade das células cancerígenas ao tratamento.

Considerações Éticas e Psicológicas

Embora o teste genético para BRCA1/BRCA2 seja uma ferramenta valiosa para o diagnóstico e manejo do câncer hereditário, ele também levanta várias questões éticas e psicológicas. A decisão de realizar o teste genético pode ser difícil para muitos pacientes, uma vez que os resultados podem ter implicações significativas para o futuro de sua saúde, além de afetar membros da família. O aconselhamento genético é essencial para ajudar os pacientes a compreender as implicações dos resultados do teste e tomar decisões informadas sobre suas opções de rastreamento e prevenção.

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O exame de BRCA1 e BRCA2 é um componente fundamental na medicina personalizada e na prevenção do câncer hereditário. Ao identificar mutações nesses genes, os profissionais de saúde podem oferecer estratégias de rastreamento e prevenção adaptadas ao risco individual, além de opções terapêuticas personalizadas. A implementação desse teste genético tem o potencial de melhorar significativamente o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes com predisposição hereditária ao câncer, ao mesmo tempo em que oferece aos familiares informações valiosas para que possam tomar medidas preventivas.



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