Exame de Cariótipo

 Exame de Cariótipo



O cariótipo é uma ferramenta essencial no campo da genética médica, permitindo a visualização e análise dos cromossomos de um indivíduo. Este exame é utilizado para identificar anomalias cromossômicas, como trissomias, monossomias, deleções, duplicações e translocações, que podem estar associadas a uma variedade de condições clínicas, incluindo síndromes genéticas, infertilidade, abortos espontâneos recorrentes e câncer. O cariótipo é realizado a partir de células em divisão, geralmente linfócitos do sangue periférico, e envolve técnicas de cultivo celular, coloração e análise microscópica.



  1. Estrutura e Função dos Cromossomos:

    • Composição: Os cromossomos são estruturas compostas por DNA e proteínas (histonas) que carregam a informação genética. Em humanos, existem 46 cromossomos, organizados em 23 pares, sendo 22 pares de autossomos e 1 par de cromossomos sexuais (XX ou XY).


    • Bandeamento Cromossômico: Técnicas de coloração, como o bandeamento G, permitem a identificação de padrões específicos de bandas claras e escuras ao longo dos cromossomos, facilitando a detecção de anomalias.


  2. Anomalias Cromossômicas:

    • Numéricas: Incluem aneuploidias, como trissomias (ex.: Síndrome de Down - trissomia do cromossomo 21) e monossomias (ex.: Síndrome de Turner - monossomia do cromossomo X).


    • Estruturais: Incluem deleções (perda de segmentos cromossômicos), duplicações (cópia extra de segmentos), inversões (segmentos invertidos) e translocações (troca de segmentos entre cromossomos).


  3. Indicações para o Exame de Cariótipo:

    • Síndromes Genéticas: Diagnóstico de condições como Síndrome de Down, Síndrome de Turner, Síndrome de Klinefelter, entre outras.


    • Infertilidade e Abortos Espontâneos: Identificação de anomalias cromossômicas que podem causar infertilidade ou perdas gestacionais recorrentes.


    • Câncer: Detecção de alterações cromossômicas associadas a neoplasias, como translocações específicas em leucemias e linfomas.


    • Malformações Congênitas: Avaliação de anomalias cromossômicas em recém-nascidos com malformações.


Técnicas de Preparação e Análise

  1. Coleta de Amostras:

    • Sangue Periférico: A amostra mais comum, coletada por venopunção. Os linfócitos são estimulados a se dividir em cultura.


    • Medula Óssea: Utilizada em casos de suspeita de neoplasias hematológicas.


    • Líquido Amniótico: Coletado por amniocentese para diagnóstico pré-natal.


    • Vilosidades Coriônicas: Coletadas por biópsia de vilo corial para diagnóstico pré-natal.


  2. Cultivo Celular

    • Estimulação de Linfócitos: As células são cultivadas em meio de cultura contendo fitohemaglutinina (PHA) para estimular a divisão celular.


    • Sincronização e Colchicina: A colchicina é adicionada para parar a divisão celular na metáfase, quando os cromossomos estão mais condensados e visíveis.


  3. Preparação das Lâminas

    • Hipotonização: As células são tratadas com solução hipotônica para romper a membrana celular e espalhar os cromossomos.

    • Fixação: As células são fixadas em uma solução de metanol e ácido acético.

    • Coloração: Técnicas de bandeamento, como o bandeamento G (Giemsa), são utilizadas para criar padrões de bandas nos cromossomos.

  4. Análise Microscópica:

    • Microscopia de Luz: Os cromossomos são visualizados ao microscópio óptico, e imagens são capturadas para análise.

    • Citogenética Clássica: Os cromossomos são organizados em pares (cariótipo) e analisados quanto a número, tamanho, forma e padrão de bandas.

    • Citogenética Molecular: Técnicas como hibridização in situ fluorescente (FISH) e array-CGH podem ser utilizadas para análises mais detalhadas.

Aplicações Práticas

  1. Diagnóstico de Síndromes Genéticas:

    • Síndrome de Down: Trissomia do cromossomo 21.

    • Síndrome de Turner: Monossomia do cromossomo X (45,X).

    • Síndrome de Klinefelter: Cariótipo 47,XXY.

    • Síndrome de Edwards: Trissomia do cromossomo 18.

    • Síndrome de Patau: Trissomia do cromossomo 13.


  2. Avaliação de Infertilidade e Abortos Espontâneos

    • Anomalias Cromossômicas em Casais Inférteis: Identificação de translocações balanceadas ou outras anomalias que podem causar infertilidade.

    • Abortos Espontâneos Recorrentes: Detecção de anomalias cromossômicas no tecido fetal, como trissomias e monossomias.


  3. Diagnóstico Pré-Natal:

    • Amniocentese e Biópsia de Vilo Corial: Utilizadas para detectar anomalias cromossômicas no feto, como trissomias e deleções.

    • Rastreamento de Anomalias Fetais: Indicado em casos de ultrassonografia anormal ou histórico familiar de síndromes genéticas.


  4. Oncologia:

    • Leucemias e Linfomas: Identificação de translocações específicas, como a t(9;22) na leucemia mieloide crônica (CML) e a t(14;18) no linfoma folicular.

    • Tumores Sólidos: Detecção de alterações cromossômicas associadas a cânceres, como deleções no cromossomo 17 no câncer de mama.

Vantagens do Exame de Cariótipo

  1. Diagnóstico Preciso de Anomalias Cromossômicas:

    • O cariótipo permite a identificação de uma ampla gama de anomalias numéricas e estruturais, fornecendo informações cruciais para o diagnóstico e manejo clínico.

  2. Aplicação em Diferentes Contextos Clínicos:

    • O exame é utilizado em diversas áreas, incluindo genética médica, oncologia, reprodução humana e diagnóstico pré-natal.

  3. Técnica Consagrada e Amplamente Disponível:

    • O cariótipo é uma técnica bem estabelecida e disponível na maioria dos laboratórios de genética, com protocolos padronizados e confiáveis.

  4. Base para Técnicas Avançadas:

    • O cariótipo serve como ponto de partida para técnicas moleculares mais avançadas, como FISH e array-CGH, que podem fornecer informações adicionais.

Limitações e Desafios

  1. Resolução Limitada:

    • O cariótipo tem uma resolução limitada, geralmente detectando anomalias maiores que 5-10 Mb. Anomalias menores podem passar despercebidas.

  2. Dependência de Células em Divisão:

    • A análise requer células em divisão, o que pode ser um desafio em amostras com baixa taxa de proliferação, como tecidos tumorais.

  3. Tempo de Processamento:

    • O cultivo celular e a preparação das lâminas podem levar vários dias, atrasando o diagnóstico.

  4. Interpretação Subjetiva:

    • A análise do cariótipo pode ser subjetiva e dependente da experiência do citogeneticista, podendo haver variabilidade interobservador.


*****

O exame de cariótipo é uma ferramenta fundamental na genética médica, fornecendo informações valiosas sobre a estrutura e o número de cromossomos. Suas aplicações abrangem desde o diagnóstico de síndromes genéticas e anomalias fetais até a avaliação de infertilidade e câncer. Apesar de suas limitações, como a resolução limitada e a dependência de células em divisão, o cariótipo continua a ser uma técnica essencial, complementada por métodos moleculares avançados. Com o avanço das tecnologias genômicas, o cariótipo mantém seu papel central no diagnóstico e manejo de uma variedade de condições clínicas.


Referências

  1. Gardner, R. J. M., & Sutherland, G. R. (2011). Chromosome Abnormalities and Genetic Counseling. Oxford University Press.

  2. Rooney, D. E., & Czepulkowski, B. H. (2001). Human Cytogenetics: Constitutional Analysis. Oxford University Press.

  3. Shaffer, L. G., & Tommerup, N. (2005). ISCN 2005: An International System for Human Cytogenetic Nomenclature. Karger.

  4. Speicher, M. R., & Carter, N. P. (2005). The New Cytogenetics: Blurring the Boundaries with Molecular Biology. Nature Reviews Genetics.

  5. Hook, E. B., & Hamerton, J. L. (1977). The Frequency of Chromosome Abnormalities Detected in Consecutive Newborn Studies. Birth Defects Original Article Series.



Comentários

Postagens mais visitadas