Exame de Citopatologia otorrinolaringológica

 Exame de Citopatologia Otorrinolaringológica


A Citopatologia Otorrinolaringológica (ORL) é uma área especializada da Patologia que se concentra no estudo das alterações celulares dos tecidos da região da cabeça e pescoço, incluindo cavidade nasal, seios paranasais, faringe, laringe, glândulas salivares e tireoide. Essa disciplina desempenha um papel crucial no diagnóstico de doenças inflamatórias, infecciosas, autoimunes e, principalmente, neoplasias. Com o avanço das técnicas de coleta e análise, a Citopatologia ORL tornou-se uma ferramenta indispensável para otorrinolaringologistas e patologistas. Este resumo aborda os fundamentos teóricos, as aplicações práticas, as técnicas de coleta e análise, bem como as vantagens e limitações da Citopatologia ORL, com base em fontes científicas sólidas.


Fundamentos Teóricos

  1. Anatomia e Fisiologia dos Tecidos ORL:

    • Cavidade Nasal e Seios Paranasais: Revestidos por epitélio respiratório e muco, são suscetíveis a infecções, inflamações e neoplasias.


    • Faringe e Laringe: A faringe é dividida em nasofaringe, orofaringe e hipofaringe, enquanto a laringe contém as cordas vocais e é crucial para a fonação e respiração.


    • Glândulas Salivares: Incluem as parótidas, submandibulares e sublinguais, responsáveis pela produção de saliva.


    • Tireoide: Localizada na região anterior do pescoço, é essencial para o metabolismo e crescimento.

  2. Princípios da Citopatologia ORL

    • Coleta de Amostras: Técnicas como punção aspirativa por agulha fina (PAAF), escovado e lavado são utilizadas para obter células dos tecidos ORL.


    • Preparação das Lâminas: As amostras são fixadas e coradas com técnicas como Papanicolau, Giemsa ou hematoxilina-eosina (H&E) para análise microscópica.


    • Análise Microscópica: A avaliação citológica permite identificar alterações celulares, como atipias, inflamação, infecção e neoplasia.


Técnicas de Coleta e Análise

  1. Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF):

    • Indicações: Diagnóstico de nódulos tireoidianos, massas cervicais e lesões das glândulas salivares.


    • Técnica: Uma agulha fina é inserida na lesão para aspirar células, que são então espalhadas em lâminas e coradas.


    • Vantagens: Minimamente invasiva, rápida e útil para diagnóstico de neoplasias.


  2. Escovado Citológico

    • Indicações: Avaliação de lesões superficiais na cavidade nasal, faringe e laringe.


    • Técnica: Utiliza-se uma escova citológica para coletar células da superfície da lesão.


    • Vantagens: Simples e eficaz para coleta de células epiteliais.


  3. Lavado e Aspiração

    • Indicações: Coleta de células de cavidades como seios paranasais e faringe.


    • Técnica: Utiliza-se uma solução salina estéril para lavar a cavidade e aspirar o líquido contendo células.


    • Vantagens: Permite a coleta de um grande número de células.


  4. Impressão Citológica

    • Indicações: Avaliação de lesões superficiais e úlceras.


    • Técnica: Uma membrana de acetato ou filtro é pressionada suavemente sobre a lesão para coletar células.


    • Vantagens: Preserva a arquitetura celular e é menos traumática.

Aplicações Práticas


  1. Diagnóstico de Neoplasias ORL

    • Carcinoma de Células Escamosas: Comum na cavidade oral, faringe e laringe. A citologia revela células epiteliais atípicas com núcleos hipercromáticos e aumento da relação núcleo-citoplasma.


    • Adenocarcinoma: Pode ocorrer nas glândulas salivares. A citologia mostra células glandulares atípicas com formação de acinos e muco.


    • Linfoma: A PAAF é útil para diagnosticar linfomas cervicais, com células linfoides atípicas observadas na citologia.


    • Carcinoma Papilífero de Tireoide: A citologia revela células foliculares com núcleos em "vidro fosco" e inclusões intranucleares.


  2. Avaliação de Infecções ORL

    • Sinusites e Faringites Infecciosas: A citologia permite identificar agentes infecciosos, como bactérias, fungos e vírus. Por exemplo, a presença de hifas fúngicas sugere sinusite fúngica.


    • Tuberculose ORL: A citologia pode revelar granulomas e células gigantes multinucleadas, indicativos de infecção por Mycobacterium tuberculosis.


  3. Diagnóstico de Doenças Inflamatórias e Autoimunes

    • Síndrome de Sjögren: A citologia do lavado das glândulas salivares pode mostrar infiltrado linfocítico e diminuição das células acinares.


    • Granulomatose com Poliangiite: A citologia de lesões nasais pode revelar vasculite e inflamação granulomatosa.


  4. Monitoramento de Resposta Terapêutica:

    • A citologia ORL é usada para avaliar a resposta ao tratamento em doenças como neoplasias e infecções. A redução de células atípicas ou agentes infecciosos indica eficácia terapêutica.

Vantagens da Citopatologia ORL


  1. Diagnóstico Rápido e Preciso:

    • A citologia permite um diagnóstico rápido, especialmente em casos de infecções e neoplasias, facilitando o início precoce do tratamento.


  2. Minimamente Invasiva:

    • Técnicas como PAAF e escovado são menos invasivas que biópsias cirúrgicas, reduzindo o risco de complicações.


  3. Custo-Efetiva:

    • A citologia é geralmente mais acessível que métodos diagnósticos avançados, como a histopatologia ou técnicas de imagem de alta resolução.


  4. Versatilidade:

    • Pode ser aplicada a uma variedade de tecidos ORL e condições patológicas, desde infecções até neoplasias.

Limitações e Desafios

  1. Dependência da Qualidade da Amostra:

    • A precisão do diagnóstico depende da coleta adequada e da preparação das lâminas. Amostras insuficientes ou mal preparadas podem levar a resultados falso-negativos.


  2. Experiência do Citopatologista:

    • A interpretação citológica requer treinamento especializado. A variabilidade interobservador pode afetar a confiabilidade dos diagnósticos.


  3. Limitações na Classificação de Neoplasias:

    • Em alguns casos, a citologia pode não ser suficiente para classificar neoplasias de forma definitiva, necessitando de confirmação histopatológica.


  4. Artefatos e Contaminação:

    • Artefatos de preparação ou contaminação da amostra podem dificultar a análise citológica.


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A Citopatologia Otorrinolaringológica é uma ferramenta diagnóstica valiosa na ORL, oferecendo um método rápido, minimamente invasivo e custo-efetivo para a avaliação de doenças da região da cabeça e pescoço. Suas aplicações abrangem desde o diagnóstico de neoplasias e infecções até o monitoramento da resposta terapêutica. Apesar de suas limitações, como a dependência da qualidade da amostra e a necessidade de expertise especializada, a Citopatologia ORL continua a evoluir com o avanço das técnicas de coleta e análise, consolidando-se como um componente essencial no manejo de pacientes otorrinolaringológicos.


Referências

  1. Barnes, L., et al. (2005). Pathology and Genetics of Head and Neck Tumours. World Health Organization Classification of Tumours.

  2. Cardesa, A., & Slootweg, P. J. (2006). Pathology of the Head and Neck. Springer.

  3. El-Naggar, A. K., et al. (2017). WHO Classification of Head and Neck Tumours. International Agency for Research on Cancer.

  4. Layfield, L. J., & Gopez, E. V. (2003). Cytopathology of the Head and Neck. ASCP Press.

  5. Rosai, J. (2011). Rosai and Ackerman's Surgical Pathology. Elsevier Health Sciences.



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