T3 Total e T3 Livre

 T3 Total e T3 Livre


O T3 (triiodotironina) é um dos hormônios produzidos pela glândula tireoide e desempenha papel central na regulação do metabolismo corporal. Existem duas formas principais de T3 no organismo: o T3 Total e o T3 Livre. Ambos são fundamentais para a função metabólica, mas diferem em sua disponibilidade no sangue e em como influenciam as atividades celulares. O T3 total representa a quantidade total de triiodotironina no sangue, incluindo a fração ligada a proteínas, enquanto o T3 livre refere-se à forma não ligada à proteínas, que está disponível para as células do corpo realizar suas funções metabólicas.

O equilíbrio adequado dos hormônios tireoidianos, incluindo o T3, é essencial para o funcionamento saudável do corpo humano. Alterações nos níveis de T3 Total e T3 Livre podem ser indicativos de várias condições clínicas, como hipotiroidismo, hipertireoidismo, distúrbios autoimunes e doenças endócrinas. Portanto, a compreensão dos conceitos teóricos e práticos sobre esses hormônios é crucial para o diagnóstico e tratamento adequado de distúrbios da tireoide.

Produção e Estrutura do T3

A glândula tireoide, localizada no pescoço, é responsável pela produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). A produção de T3 começa com a captura de iodo pela tireoide, um processo crucial para a síntese dos hormônios tireoidianos. O T3 é derivado do T4, o qual é convertido em T3 pela ação de uma enzima chamada desiodase. Este processo ocorre principalmente nos tecidos periféricos, como o fígado, os rins e o tecido muscular, sendo um passo vital para a ativação do T3.

A maior parte do T3 no sangue não é diretamente produzida pela tireoide, mas sim convertida a partir do T4. Aproximadamente 20% do T3 é produzido diretamente pela tireoide, enquanto o restante é convertido a partir do T4 nos tecidos periféricos. A produção de T3 é regulada por um complexo sistema de feedback envolvendo o hipotálamo, a hipófise e a própria tireoide.

T3 Total vs. T3 Livre

T3 Total

O T3 Total é uma medida que inclui tanto o T3 livre quanto a fração de T3 que está ligada a proteínas no sangue, como a globulina ligadora de tiroxina (TBG), a transtirretina e a albumina. A maior parte do T3 no corpo circula ligada a essas proteínas, e apenas uma pequena quantidade está presente na forma livre.

O T3 Total não reflete diretamente a quantidade de T3 disponível para as células do corpo, uma vez que a forma ligada a proteínas não é biologicamente ativa. Portanto, o T3 Total pode ser influenciado por fatores que alteram os níveis de proteínas plasmáticas, como doenças hepáticas, síndrome nefrótica, ou variações hormonais.

T3 Livre

O T3 Livre, por outro lado, refere-se à fração do hormônio que não está ligada a proteínas. Esta forma é a mais biologicamente ativa, uma vez que é a que pode penetrar nas células e se ligar aos receptores nucleares para regular a expressão gênica e afetar o metabolismo. A medição do T3 Livre fornece uma avaliação mais precisa da quantidade de T3 disponível para os tecidos do corpo.

Enquanto o T3 Total pode ser afetado por variações nas proteínas plasmáticas, o T3 Livre é uma medida mais direta da atividade hormonal da tireoide. A avaliação do T3 Livre é particularmente útil em condições clínicas onde a concentração de proteínas no sangue pode estar alterada, como em doenças hepáticas ou renais.

Funções do T3 no Corpo

O T3 tem várias funções críticas no corpo humano, principalmente no metabolismo e no crescimento. Ele influencia diretamente a taxa de consumo de oxigênio, a produção de calor e a utilização de energia. Algumas das principais funções do T3 incluem:

  • Metabolismo energético: O T3 aumenta a taxa metabólica basal, estimulando a oxidação de carboidratos e lipídios, o que resulta em maior produção de energia. Ele também aumenta a produção de calor, influenciando a termogênese.
  • Desenvolvimento e crescimento: O T3 é essencial para o crescimento normal durante o desenvolvimento fetal, infantil e adolescência. Ele também regula o desenvolvimento do sistema nervoso central.
  • Função cardiovascular: O T3 aumenta a frequência cardíaca, a contratilidade do coração e a perfusão sanguínea.
  • Função muscular e óssea: O T3 desempenha um papel no crescimento ósseo e na manutenção da massa muscular.
  • Função gastrointestinal: O T3 estimula o trânsito intestinal e a secreção de enzimas digestivas, contribuindo para uma digestão eficiente.

Regulação do T3

A produção de T3 é controlada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. Quando os níveis de T3 no sangue estão baixos, o hipotálamo libera o TRH (Hormônio Liberador de Tireoide), que, por sua vez, estimula a hipófise a liberar TSH (Hormônio Estimulador da Tireoide). O TSH estimula a tireoide a produzir T3 e T4. Quando os níveis de T3 e T4 aumentam, ocorre um feedback negativo que reduz a liberação de TRH e TSH.

Além disso, como o T3 é principalmente derivado do T4, a conversão de T4 em T3 nos tecidos periféricos é regulada por várias enzimas chamadas desiodases, que removem o átomo de iodo do T4 para formar T3.

Alterações nos Níveis de T3 e suas Implicações Clínicas

Alterações nos níveis de T3 Total e T3 Livre podem indicar diversas condições clínicas. A seguir, são apresentadas algumas das condições mais comuns associadas a essas alterações:

Hipotireoidismo

O hipotireoidismo ocorre quando a glândula tireoide não produz hormônios suficientes (T3 e T4). Como resultado, a produção de T3 e T4 é reduzida, o que leva a um aumento compensatório nos níveis de TSH, com o objetivo de estimular a tireoide. Nos exames laboratoriais, pode-se observar níveis de T3 Total e T3 Livre abaixo da faixa de referência, acompanhados de níveis elevados de TSH.

  • Causas comuns: A doença de Hashimoto (uma doença autoimune), deficiência de iodo, e lesões na tireoide.

Hipertireoidismo

O hipertireoidismo ocorre quando a glândula tireoide produz hormônios em excesso. Como resultado, os níveis de T3 e T4 estão elevados, o que inibe a liberação de TSH por feedback negativo. Nos exames laboratoriais, os níveis de T3 Total e T3 Livre estarão elevados, enquanto o TSH estará suprimido.

  • Causas comuns: A Doença de Graves (uma condição autoimune), nódulos tireoidianos autônomos, e inflamação da tireoide (tireoidite).

Síndrome do Eutiroidismo Doente

A Síndrome do Eutiroidismo Doente é uma condição onde os níveis de T3 Total e T3 Livre estão anormais, mas o paciente não apresenta disfunção primária da tireoide. Em situações de estresse grave, doenças críticas ou condições inflamatórias, os níveis de T3 podem ser reduzidos, mesmo na ausência de disfunção tireoidiana. Nessa síndrome, o TSH pode permanecer normal ou ligeiramente alterado.

Distúrbios nas Proteínas Transportadoras

Alterações nos níveis de proteínas transportadoras de hormônios tireoidianos, como a globulina ligadora de tiroxina (TBG), podem afetar os níveis de T3 Total. Por exemplo, em pacientes com hiperestrogenismo (como mulheres grávidas ou em terapia hormonal), os níveis de TBG podem aumentar, levando a uma elevação do T3 Total. No entanto, os níveis de T3 Livre permanecem inalterados, uma vez que a forma livre não depende dessas proteínas.

Utilização dos Testes de T3 Total e T3 Livre no Diagnóstico

A avaliação dos níveis de T3 Total e T3 Livre é um dos testes fundamentais para o diagnóstico de distúrbios tireoidianos. Os médicos frequentemente solicitam esses exames em conjunto com o TSH e T4 para uma avaliação completa da função tireoidiana. Em situações de alterações nos níveis de T3 Total, o T3 Livre é especialmente importante para fornecer uma avaliação precisa da disponibilidade de T3 ativo no organismo.

A interpretação dos níveis de T3 deve considerar o contexto clínico do paciente, como idade, sexo, histórico médico e sintomas apresentados, para que o diagnóstico seja o mais preciso possível.

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O T3, tanto na sua forma total quanto livre, é crucial para a regulação do metabolismo e para a manutenção de várias funções fisiológicas. O T3 Total inclui tanto a fração ligada a proteínas quanto a livre, enquanto o T3 Livre reflete a forma biologicamente ativa. Alterações nos níveis de T3 Total e T3 Livre podem ser indicativas de condições clínicas significativas, como hipotireoidismo, hipertireoidismo e distúrbios das proteínas transportadoras. A avaliação adequada desses hormônios permite que os profissionais de saúde diagnostiquem de maneira eficaz doenças tireoidianas e monitorem o tratamento de pacientes com disfunções da glândula tireoide.


Referências


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  • Chaker, L., Bianco, A. C., Jonklaas, J., & Peeters, R. P. (2017). Hypothyroidism. The Lancet, 390(10101), 1550-1562.


  • De Groot, L., Abalovich, M., Alexander, E. K., Amino, N., Barbour, L., Cobin, R. H., ... & Sullivan, S. (2012). Management of thyroid dysfunction during pregnancy and postpartum: an Endocrine Society clinical practice guideline. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, 97(8), 2543-2565.



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