Estudo de Estabilidade e Amostras: Quando e como fazer?

 Estudo de Estabilidade e Amostras: Quando e como fazer?


A integridade das amostras biológicas é um fator crítico para a obtenção de resultados analíticos confiáveis em laboratórios clínicos, de pesquisa e forenses. Alterações na composição das amostras ao longo do tempo, decorrentes de processos físicos, químicos ou biológicos, podem comprometer a precisão e a exatidão das análises, levando a interpretações errôneas e decisões equivocadas. Nesse contexto, o estudo de estabilidade de amostras emerge como uma etapa fundamental para determinar as condições ideais de armazenamento e os períodos máximos aceitáveis para a manutenção da integridade dos analitos de interesse.

A necessidade de realizar estudos de estabilidade de amostras surge em diversas situações. Primeiramente, é essencial quando um novo ensaio é implementado no laboratório, especialmente se não houver dados de estabilidade robustos disponíveis na literatura ou nas informações fornecidas pelo fabricante do método ou reagente. Em segundo lugar, variações significativas nos procedimentos de coleta, processamento ou armazenamento de amostras podem impactar a estabilidade dos analitos, exigindo uma avaliação específica para as condições do laboratório. Adicionalmente, o desenvolvimento de novos biomarcadores ou a utilização de matrizes amostrais incomuns podem requerer investigações de estabilidade dedicadas. Por fim, a acreditação laboratorial e as diretrizes regulatórias frequentemente exigem a comprovação da estabilidade das amostras sob as condições de rotina do laboratório.

O planejamento de um estudo de estabilidade de amostras deve ser meticuloso e considerar diversos fatores. Inicialmente, é crucial definir claramente o objetivo do estudo, identificando os analitos de interesse e a matriz amostral relevante. As condições de armazenamento a serem avaliadas devem mimetizar as práticas do laboratório, incluindo diferentes temperaturas (por exemplo, temperatura ambiente, refrigeração a 4°C, congelamento a -20°C ou -80°C), tempo de armazenamento (incluindo períodos curtos para avaliar a estabilidade durante o processamento e períodos mais longos para simular o armazenamento antes da análise) e, se aplicável, a influência de ciclos de congelamento e descongelamento.

A seleção das amostras para o estudo é um ponto crítico. Idealmente, devem ser utilizadas amostras representativas da população de pacientes ou da fonte de amostras analisada rotineiramente. Amostras controle com concentrações conhecidas dos analitos de interesse, incluindo níveis baixo, médio e alto, devem ser incluídas para avaliar a estabilidade em diferentes faixas de concentração. O número de amostras e os pontos de tempo para análise devem ser estatisticamente significativos para permitir a detecção de alterações relevantes na concentração dos analitos ao longo do tempo.

A execução do estudo de estabilidade envolve o armazenamento das amostras sob as condições definidas e a análise dos analitos de interesse em intervalos de tempo predeterminados. Os métodos analíticos utilizados para quantificar os analitos devem ser validados e apresentar precisão e exatidão adequadas. É fundamental garantir a rastreabilidade das amostras e a manutenção rigorosa das condições de armazenamento durante todo o estudo.

A análise dos dados gerados no estudo de estabilidade é crucial para determinar os períodos máximos de armazenamento aceitáveis para cada condição avaliada. Geralmente, considera-se que uma amostra é estável se a alteração na concentração do analito ao longo do tempo não exceder um limite predefinido, que deve ser clinicamente ou analiticamente significativo. Esse limite pode ser baseado em critérios biológicos, na variabilidade analítica do método ou em diretrizes regulatórias. A análise estatística dos dados, como a construção de gráficos de concentração versus tempo e a aplicação de testes estatísticos para avaliar a significância das mudanças, auxilia na determinação dos períodos de estabilidade.

A documentação completa do estudo de estabilidade é imprescindível. O protocolo do estudo deve detalhar os objetivos, as condições de armazenamento, os pontos de tempo, os métodos analíticos utilizados, os critérios de aceitação e os planos de análise estatística. Os dados brutos, os resultados das análises e a interpretação dos dados devem ser registrados de forma clara e organizada. O relatório final do estudo de estabilidade deve apresentar as conclusões sobre os períodos máximos de armazenamento aceitáveis para cada condição avaliada, fornecendo as evidências que embasam as práticas de armazenamento de amostras no laboratório.

O estudo de estabilidade de amostras é um processo essencial para garantir a qualidade e a confiabilidade dos resultados laboratoriais. O planejamento cuidadoso, a execução rigorosa e a análise estatística dos dados são cruciais para determinar as condições ideais de armazenamento e os períodos máximos aceitáveis para a manutenção da integridade dos analitos. A documentação completa do estudo fornece as evidências necessárias para comprovar a validade das práticas de armazenamento e para atender aos requisitos de acreditação e regulatórios, contribuindo para a excelência dos serviços laboratoriais.


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