Exames Preventivos para Diagnóstico do Câncer Colorretal (Cólon e Reto)

 Exames Preventivos para Diagnóstico do Câncer Colorretal (Cólon e Reto)


O câncer colorretal (CCR), que engloba tumores malignos do cólon e do reto, representa uma das principais causas de morbidade e mortalidade por câncer em nível global. A detecção precoce, através de exames preventivos (rastreamento), é uma estratégia comprovadamente eficaz na redução da incidência e da mortalidade associada ao CCR. Este resumo científico visa apresentar uma visão geral dos principais exames preventivos para o diagnóstico do CCR, embasada em evidências teóricas e recomendações da comunidade científica.

Rastreamento do Câncer Colorretal: Fundamentos Teóricos e Objetivos

O rastreamento do CCR tem como objetivo identificar lesões pré-cancerosas (principalmente pólipos adenomatosos) e cânceres em estágios iniciais, antes que sintomas clínicos se manifestem. A remoção de pólipos adenomatosos interrompe a sequência adenoma-carcinoma, prevenindo o desenvolvimento do câncer. A detecção de cânceres em estágios iniciais está associada a melhores taxas de sobrevida devido à maior probabilidade de tratamento curativo.

A eficácia de um programa de rastreamento depende de diversos fatores, incluindo a sensibilidade e especificidade dos testes utilizados, a adesão da população-alvo, a capacidade de realizar procedimentos diagnósticos e terapêuticos subsequentes (como a colonoscopia e a polipectomia) e a efetividade dos tratamentos para os casos detectados. A comunidade científica, através de organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a American Cancer Society (ACS), o US Preventive Services Task Force (USPSTF) e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) no Brasil, estabelece diretrizes para o rastreamento do CCR, considerando a idade, o risco individual e a disponibilidade de recursos.

Principais Métodos de Rastreamento

Diversos métodos estão disponíveis para o rastreamento do CCR, cada um com suas vantagens e limitações em termos de sensibilidade, especificidade, aceitabilidade e custo. Os principais incluem testes fecais, sigmoidoscopia flexível, colonoscopia e colonografia por tomografia computadorizada (CTC).

 Testes Fecais

Os testes fecais são métodos não invasivos que visam detectar sinais indiretos da presença de pólipos ou câncer no cólon e reto através da análise das fezes. Os dois principais tipos de testes fecais utilizados no rastreamento do CCR são o teste de sangue oculto nas fezes (TSOF) e o teste imunológico fecal (FIT).

  • Teste de Sangue Oculto nas Fezes (TSOF): O TSOF detecta a presença de sangue não visível a olho nu nas fezes. Existem diferentes tipos de TSOF, sendo os mais comuns o TSOF guaiac (gFOBT) e o TSOF imunocromatográfico (iFOBT ou FIT). O gFOBT requer restrições dietéticas e de medicamentos antes da coleta das amostras e detecta o heme, um componente da hemoglobina. O FIT é mais específico para o sangue humano do trato gastrointestinal inferior e não requer restrições dietéticas. Ambos os testes possuem boa especificidade para câncer, mas sensibilidade moderada para pólipos avançados e câncer. Resultados positivos no TSOF requerem investigação adicional com colonoscopia.

  • Teste Imunológico Fecal (FIT): O FIT utiliza anticorpos para detectar especificamente a hemoglobina humana nas fezes. Possui maior sensibilidade e especificidade para câncer colorretal e pólipos avançados em comparação com o gFOBT. O FIT é geralmente preferido devido à sua facilidade de uso e à ausência de restrições dietéticas. Resultados positivos no FIT também exigem colonoscopia para investigação.

 Sigmoidoscopia Flexível

A sigmoidoscopia flexível é um procedimento endoscópico que utiliza um tubo fino e flexível com uma câmera na ponta para visualizar o reto e a porção distal do cólon sigmoide (aproximadamente os últimos 60 cm do cólon). A sigmoidoscopia permite a detecção e remoção de pólipos e a coleta de biópsias de lesões suspeitas nessa região. No entanto, ela não visualiza a porção proximal do cólon (cólon ascendente e transverso), onde uma proporção significativa de pólipos e cânceres pode ocorrer. A sigmoidoscopia flexível pode ser realizada com menor preparo intestinal do que a colonoscopia. Estudos demonstraram que o rastreamento com sigmoidoscopia flexível reduz a incidência e a mortalidade por câncer colorretal distal.

 Colonoscopia

A colonoscopia é considerada o método de rastreamento mais sensível e específico para o CCR. É um procedimento endoscópico que utiliza um colonoscópio, um tubo longo, fino e flexível com uma câmera na ponta, para visualizar todo o cólon e o reto. A colonoscopia permite a detecção, remoção de pólipos (polipectomia) e coleta de biópsias de lesões suspeitas em todo o intestino grosso. A polipectomia durante a colonoscopia é uma das principais razões pelas quais o rastreamento com colonoscopia é eficaz na prevenção do CCR. No entanto, a colonoscopia requer um preparo intestinal completo, é mais invasiva e apresenta um pequeno risco de complicações, como sangramento e perfuração. A colonoscopia é geralmente recomendada como o exame de seguimento para resultados positivos em testes fecais ou sigmoidoscopia.

 Colonografia por Tomografia Computadorizada (CTC) ou Colonoscopia Virtual

A CTC é um exame de imagem não invasivo que utiliza tomografia computadorizada para criar imagens tridimensionais do cólon e do reto após a insuflação com ar ou dióxido de carbono. A CTC pode detectar pólipos e cânceres com sensibilidade e especificidade razoáveis, embora geralmente inferiores às da colonoscopia. Uma das vantagens da CTC é ser menos invasiva e não requerer sedação na maioria dos casos. No entanto, se pólipos significativos forem detectados na CTC, é necessária uma colonoscopia subsequente para a remoção e análise histopatológica. A CTC também pode detectar achados extra-cólicos que podem ter relevância clínica.

Estratégias de Rastreamento e Recomendações

As recomendações para o rastreamento do CCR variam entre as organizações, mas geralmente concordam que o rastreamento deve começar em torno dos 45 ou 50 anos para indivíduos com risco médio. As opções de rastreamento incluem:

  • Testes fecais anuais (FIT) ou a cada dois anos (gFOBT).
  • Sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos.
  • Colonoscopia a cada 10 anos.
  • CTC a cada 5 anos (em algumas diretrizes).

A escolha do método de rastreamento deve ser individualizada, considerando a preferência do paciente, a disponibilidade dos exames, o risco individual de CCR e os recursos do sistema de saúde.

Indivíduos com risco aumentado de CCR, como aqueles com histórico familiar de CCR ou pólipos avançados, história pessoal de doença inflamatória intestinal, pólipos adenomatosos ou síndromes hereditárias de câncer colorretal (como a polipose adenomatosa familiar e a síndrome de Lynch), geralmente necessitam de rastreamento mais precoce e/ou mais frequente, utilizando preferencialmente a colonoscopia.

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Apesar da comprovada eficácia do rastreamento do CCR, existem desafios na sua implementação em larga escala. A adesão da população aos programas de rastreamento é um fator crucial para o sucesso. A falta de conhecimento sobre a importância do rastreamento, o medo dos procedimentos invasivos e as barreiras socioeconômicas podem limitar a participação.

A qualidade da colonoscopia é fundamental para a eficácia do rastreamento. Taxas adequadas de detecção de adenomas (ADR) pelos colonoscopistas são importantes para garantir a identificação de lesões pré-cancerosas. O preparo intestinal inadequado pode comprometer a visualização do cólon e reduzir a sensibilidade da colonoscopia.

A superdetecção de lesões indolentes que nunca progrediriam para câncer clinicamente significativo é uma preocupação teórica, especialmente com a colonoscopia. No entanto, os benefícios da prevenção e detecção precoce de cânceres agressivos geralmente superam esse risco.

O rastreamento do câncer colorretal é uma estratégia essencial para reduzir a incidência e a mortalidade desta doença. Diversos métodos de rastreamento estão disponíveis, cada um com suas características e recomendações específicas. A escolha do método deve ser individualizada, considerando o risco, a preferência do paciente e a disponibilidade dos recursos. A colonoscopia é considerada o método mais abrangente, permitindo a detecção e remoção de pólipos em todo o cólon. Os testes fecais e a sigmoidoscopia flexível são alternativas importantes, especialmente em programas de rastreamento populacional. A colonografia por tomografia computadorizada pode ser uma opção em casos selecionados. Esforços contínuos são necessários para aumentar a adesão ao rastreamento, melhorar a qualidade dos procedimentos e otimizar as estratégias de prevenção e detecção precoce do câncer colorretal.


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