Validação de kits comerciais: critérios mínimos e pontos críticos
Validação de kits comerciais: critérios mínimos e pontos críticos
A ampla disponibilidade de kits comerciais para diversas análises laboratoriais oferece praticidade e agilidade, tornando-se ferramentas valiosas em laboratórios clínicos, de pesquisa e industriais. No entanto, a simples aquisição e utilização desses kits não garantem a confiabilidade dos resultados. A validação, ou pelo menos a verificação robusta, desses kits no ambiente específico de cada laboratório é um passo crítico para assegurar que o desempenho atenda aos requisitos de qualidade e às necessidades da aplicação pretendida. Este artigo discute os critérios mínimos e os pontos críticos a serem considerados no processo de validação de kits comerciais.
Um dos critérios mínimos essenciais na validação de kits comerciais é a avaliação da precisão. O laboratório deve determinar a repetibilidade (variação intra-ensaio) e a precisão intermediária (variação inter-ensaio, considerando diferentes corridas, operadores e dias) do kit utilizando amostras de controle ou amostras representativas da matriz a ser analisada. Os resultados devem estar dentro dos limites de aceitação especificados pelo fabricante ou definidos pelo laboratório com base nos requisitos de qualidade.
A exatidão é outro critério fundamental. A avaliação da exatidão envolve a comparação dos resultados obtidos com o kit com valores de referência conhecidos. Isso pode ser feito utilizando materiais de referência certificados (MRCs), amostras controle com valores atribuídos ou pela comparação com um método de referência estabelecido (se aplicável e viável). A recuperação do analito em amostras fortificadas também pode ser utilizada para avaliar a exatidão, especialmente em matrizes complexas.
A linearidade e a faixa de medição do kit também devem ser verificadas, especialmente para métodos quantitativos. Isso envolve a análise de uma série de padrões com concentrações conhecidas que abrangem a faixa de trabalho declarada pelo fabricante. A resposta do kit deve ser proporcional à concentração do analito dentro dessa faixa, com um coeficiente de correlação (r) ou de determinação (r²) aceitável.
A especificidade ou seletividade do kit é um critério crucial, particularmente em ensaios que podem sofrer interferência de componentes da matriz da amostra ou de analitos estruturalmente semelhantes. A avaliação da especificidade envolve testar o kit com substâncias potencialmente interferentes para verificar se elas causam resultados falso-positivos ou falso-negativos significativos.
Além dos critérios mínimos de desempenho, existem pontos críticos que exigem atenção especial durante a validação de kits comerciais. A matriz da amostra é um desses pontos. O desempenho de um kit pode variar significativamente dependendo da matriz da amostra (por exemplo, soro, plasma, urina, lisados celulares). É essencial validar o kit utilizando amostras que representem a matriz real a ser analisada rotineiramente no laboratório.
A estabilidade dos reagentes e dos controles fornecidos no kit é outro ponto crítico. O laboratório deve verificar se os reagentes e controles mantêm seu desempenho dentro dos prazos de validade e sob as condições de armazenamento recomendadas pelo fabricante. Testes de estabilidade acelerada ou em tempo real podem ser realizados para confirmar essas informações.
A interpretação dos resultados e os controles de qualidade internos fornecidos pelo kit devem ser cuidadosamente avaliados. O laboratório deve garantir que os controles internos funcionem conforme o esperado e que os critérios para aceitação ou rejeição dos resultados estejam claramente definidos e sejam adequados para garantir a qualidade dos dados gerados.
A documentação fornecida pelo fabricante é um recurso valioso, mas não substitui a validação no ambiente do usuário. As informações sobre o desempenho esperado, as limitações do método, as precauções e os procedimentos de controle de qualidade devem ser revisadas criticamente e verificadas no laboratório.
Por fim, a qualificação do pessoal que irá utilizar o kit é um ponto crítico. Os operadores devem ser devidamente treinados nos procedimentos do kit, na interpretação dos resultados e nas ações a serem tomadas em caso de resultados inesperados ou problemas com o desempenho do kit.
A validação de kits comerciais em laboratórios é um processo multifacetado que requer a avaliação de critérios mínimos de desempenho, como precisão, exatidão, linearidade e especificidade, além da consideração de pontos críticos como a matriz da amostra, a estabilidade dos reagentes, os controles de qualidade e a qualificação do pessoal. Uma validação rigorosa garante que o kit seja adequado para o uso pretendido no ambiente específico do laboratório, fornecendo resultados confiáveis e contribuindo para a qualidade dos serviços prestados.
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