Coleta da Amostra na Ordem Correta dos Tubos, Quando Aplicável
Coleta da Amostra na Ordem Correta dos Tubos, Quando Aplicável
A coleta de amostras sanguíneas é um procedimento fundamental no laboratório clínico, fornecendo informações cruciais para o diagnóstico, monitoramento e prognóstico de diversas condições de saúde. Embora aparentemente simples, a técnica de coleta exige rigor e atenção a detalhes, sendo a ordem de preenchimento dos tubos de coleta a vácuo um aspecto crítico para a garantia da integridade da amostra e a confiabilidade dos resultados laboratoriais. A inobservância da ordem correta pode levar a contaminações cruzadas entre aditivos presentes em diferentes tubos, comprometendo a precisão analítica e, consequentemente, a qualidade do atendimento ao paciente.
A padronização da ordem de coleta de amostras sanguíneas é amplamente preconizada por órgãos reguladores e sociedades científicas de prestígio internacional, como o Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). O CLSI, em sua diretriz GP41-A7 "Procedures for the Collection of Diagnostic Blood Specimens by Venipuncture", estabelece uma sequência específica para minimizar o risco de interferências analíticas. Essa ordem é baseada no tipo de aditivo presente em cada tubo e no potencial de contaminação que cada aditivo representa para os testes subsequentes.
A ordem de coleta recomendada pelo CLSI, e amplamente adotada em laboratórios clínicos ao redor do mundo, é a seguinte:
Tubo para Hemocultura: Coletado em primeiro lugar quando múltiplos tubos são necessários para investigação de bacteremia ou fungemia. A prioridade se deve à necessidade de minimizar o risco de contaminação microbiológica da amostra por outros aditivos ou pelo ambiente.
Tubo Citrato de Sódio (Tampa Azul): Utilizado principalmente para testes de coagulação, como Tempo de Protrombina (TP) e Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA). O citrato de sódio é um anticoagulante que se liga aos íons cálcio de forma reversível, preservando os fatores de coagulação dependentes de cálcio. A coleta antes de tubos com outros aditivos evita a contaminação por substâncias que poderiam ativar a coagulação ou interferir nos resultados.
Tubo Soro com ou sem Gel Separador (Tampa Vermelha ou Amarela): Destinado a testes de bioquímica, imunologia e sorologia. A ausência de anticoagulante permite a coagulação completa do sangue e a separação do soro. A coleta após os tubos de hemocultura e citrato minimiza o risco de contaminação por aditivos anticoagulantes. O gel separador, quando presente, forma uma barreira física entre o soro e as células sanguíneas, preservando a integridade do soro para análise.
Tubo Heparina com ou sem Gel Separador (Tampa Verde): Utilizado para testes de bioquímica e gasometria. A heparina ativa a antitrombina III, inibindo a formação de trombina e, consequentemente, a coagulação. A coleta após os tubos de soro evita a contaminação por ativadores de coágulo ou outros aditivos que poderiam interferir nos resultados.
Tubo EDTA (Tampa Roxa ou Lavanda): Empregado para testes hematológicos, como hemograma completo e contagem de plaquetas, e para testes de biologia molecular. O EDTA (ácido etilenodiaminotetra-acético) é um anticoagulante que se liga aos íons cálcio de forma irreversível, impedindo a coagulação. A coleta após os tubos anteriores evita a contaminação por outros anticoagulantes ou aditivos que poderiam alterar a morfologia celular ou interferir nas análises moleculares.
Tubo Fluoreto de Sódio/EDTA ou Fluoreto de Sódio/Oxalato de Potássio (Tampa Cinza): Utilizado principalmente para a dosagem de glicose. O fluoreto de sódio inibe a glicólise, prevenindo a degradação da glicose pela ação das enzimas presentes nas células sanguíneas. O EDTA ou o oxalato de potássio atuam como anticoagulantes. A coleta por último na ordem padrão minimiza o risco de interferência do fluoreto em outros testes.
É importante ressaltar que, em situações específicas onde apenas um tubo de coleta é necessário, a ordem não se aplica. No entanto, quando múltiplos tubos são requeridos, a adesão estrita à ordem recomendada é crucial. Desvios nessa ordem podem levar à contaminação cruzada de aditivos, resultando em resultados laboratoriais espúrios. Por exemplo, a coleta de um tubo EDTA antes de um tubo de soro pode contaminar a amostra de soro com EDTA, interferindo em testes de cálcio, potássio e enzimas. Da mesma forma, a coleta de um tubo contendo ativador de coágulo antes de um tubo de coagulação pode levar à ativação precoce da cascata de coagulação, resultando em tempos de coagulação falsamente diminuídos.
Além da ordem de coleta, outros fatores pré-analíticos são essenciais para garantir a qualidade da amostra, incluindo a técnica de venipunção adequada, a identificação correta do paciente e da amostra, o volume de sangue correto para cada tubo e a homogeneização suave da amostra com o aditivo logo após a coleta. A educação e o treinamento contínuo dos profissionais de saúde responsáveis pela coleta são, portanto, indispensáveis para a implementação e o cumprimento das diretrizes estabelecidas.
Portanto, a coleta de amostras sanguíneas na ordem correta dos tubos, quando aplicável, representa uma prática fundamental para a garantia da integridade analítica e a segurança do paciente. A adesão às diretrizes estabelecidas por órgãos de referência como o CLSI minimiza o risco de contaminações cruzadas e resultados laboratoriais equivocados, contribuindo para um diagnóstico preciso e um manejo clínico eficaz. A conscientização da equipe de saúde sobre a importância desse procedimento e a implementação de protocolos rigorosos são pilares essenciais para a qualidade dos serviços laboratoriais.
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