Cultura em Ágar Mycosel ou BBL Mycosel

 Cultura em Ágar Mycosel ou BBL Mycosel


A cultura em Ágar Mycosel (também conhecido comercialmente como BBL Mycosel) é uma das técnicas laboratoriais mais utilizadas para o isolamento seletivo de fungos patogênicos em amostras clínicas e ambientais. Trata-se de um meio de cultura sólido, desenvolvido com a finalidade de favorecer o crescimento de fungos de interesse médico, especialmente dermatófitos, ao mesmo tempo em que inibe o crescimento de bactérias e fungos contaminantes não desejados. Essa seletividade é obtida por meio da adição de antibióticos específicos à sua formulação. A cultura em Ágar Mycosel é amplamente respaldada pela literatura científica e adotada por protocolos laboratoriais reconhecidos internacionalmente, como os da Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI), por seu alto desempenho no diagnóstico micológico.

Do ponto de vista teórico, o Ágar Mycosel é um meio de cultura seletivo e diferencial, projetado para isolar fungos patogênicos a partir de amostras que podem conter uma alta carga microbiana, como pele, unhas, cabelo, solo ou superfícies ambientais. Sua formulação básica é composta por peptona, dextrose (como fonte de carbono), ágar (agente solidificante) e, de forma crucial, pelos antibióticos cloranfenicol e cicloheximida. O cloranfenicol atua como agente bacteriostático de amplo espectro, inibindo bactérias Gram-positivas e Gram-negativas que comumente contaminam amostras clínicas. A cicloheximida, por sua vez, é um agente antifúngico que inibe a síntese proteica em fungos saprofíticos comuns do ambiente, como AspergillusPenicillium e Mucor, mas que não afeta significativamente o crescimento de dermatófitos, como TrichophytonMicrosporum e Epidermophyton.

Na prática, o uso de Ágar Mycosel é fundamental em laboratórios de microbiologia clínica e micologia médica. Amostras suspeitas de infecção fúngica são semeadas diretamente no meio e incubadas a temperaturas que variam entre 25 °C e 30 °C, geralmente por um período de 7 a 21 dias. O crescimento de colônias fúngicas é então avaliado com base em características macroscópicas, como cor, textura, velocidade de crescimento e pigmentação e microscópicas, através da análise de estruturas como hifas, conídios e esporos. A seletividade do Mycosel reduz a interferência de microrganismos contaminantes, o que facilita a identificação dos fungos patogênicos.

A literatura científica enfatiza a importância do Ágar Mycosel no diagnóstico de dermatofitoses, um grupo de infecções cutâneas comuns em humanos e animais. Essas infecções, causadas por fungos queratinofílicos, são de alta prevalência global e podem afetar pele, unhas e couro cabeludo. De acordo com estudos como os de Weitzman e Summerbell (1995), o uso de meios seletivos como o Mycosel aumenta significativamente a taxa de recuperação de dermatófitos em comparação a meios não seletivos como o Ágar Sabouraud simples, especialmente em amostras contaminadas com bactérias e leveduras ambientais.

Além do diagnóstico clínico, o Ágar Mycosel também é utilizado em investigações epidemiológicas e estudos de biodiversidade micológica. Em estudos ambientais, por exemplo, ele é empregado para isolar fungos patogênicos presentes no solo, em animais domésticos e em objetos de uso coletivo, como roupas, pisos e equipamentos esportivos. Nessas situações, a presença de contaminantes é elevada, tornando o uso de meios seletivos essencial para a detecção de fungos de interesse médico.

Do ponto de vista da biossegurança e controle de infecção hospitalar, o Ágar Mycosel é uma ferramenta indispensável para a triagem de pacientes imunossuprimidos ou em risco de infecções fúngicas oportunistas. Embora a cicloheximida possa inibir algumas espécies de leveduras patogênicas, como Candida tropicalis ou Cryptococcus neoformans, o meio ainda é eficaz quando o objetivo principal é a triagem de dermatófitos e fungos superficiais. Para uma abordagem diagnóstica completa, é comum que os laboratórios utilizem o Mycosel em conjunto com outros meios, como o Ágar Sabouraud com e sem antibióticos, permitindo uma comparação entre o crescimento em diferentes condições.

Contudo, a seletividade do Ágar Mycosel também pode ser uma limitação. A cicloheximida, apesar de sua eficácia em inibir fungos saprofíticos, também pode suprimir o crescimento de fungos patogênicos de importância clínica que não sejam dermatófitos, como Candida parapsilosisHistoplasma capsulatum ou Sporothrix schenckii. Por isso, é fundamental que o uso do Mycosel seja sempre contextualizado no conjunto do diagnóstico laboratorial, levando em conta os sinais clínicos, o histórico do paciente e a cultura paralela em meios mais amplos.

O Ágar Mycosel é um meio seletivo altamente eficaz para o isolamento de fungos patogênicos, especialmente dermatófitos, em amostras clínicas e ambientais com grande carga microbiana. Sua formulação contendo cloranfenicol e cicloheximida confere alta especificidade, o que o torna uma ferramenta indispensável no diagnóstico micológico. No entanto, seu uso deve ser combinado com outros meios e técnicas laboratoriais para garantir uma abordagem abrangente e segura. A contínua validação científica de sua eficácia e a padronização de sua aplicação nos protocolos laboratoriais reforçam seu papel central na micologia aplicada, contribuindo significativamente para a saúde pública, medicina veterinária e controle de infecções.


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