Exames Laboratoriais Antes das Cirurgias Obstétricas

 Exames Laboratoriais Antes das Cirurgias Obstétricas




As cirurgias obstétricas, como cesarianas, cerclagem cervical ou procedimentos para gravidez ectópica, são intervenções frequentes realizadas para garantir a saúde da mãe e do feto. Devido às particularidades fisiológicas da gravidez, como alterações hematológicas, metabólicas e imunológicas, a avaliação pré-operatória com exames laboratoriais é crucial para minimizar riscos, como sangramentos, infecções ou complicações anestésicas. Esses exames ajudam a identificar condições que possam comprometer o procedimento ou a recuperação, além de orientar o manejo perioperatório

Hemograma Completo

O hemograma completo é essencial para avaliar o estado hematológico da gestante. A gravidez induz um estado de anemia fisiológica devido ao aumento do volume plasmático, mas a contagem de hemácias e hemoglobina é crucial para identificar anemia patológica, que pode aumentar o risco de hipóxia tecidual durante a cirurgia, especialmente em cesarianas, que envolvem perdas sanguíneas significativas. Alterações nos leucócitos podem indicar infecções, como coriomnionite ou infecção urinária, comuns na gestação e que requerem tratamento prévio. A contagem de plaquetas é fundamental, pois trombocitopenia, como na pré-eclâmpsia ou síndrome HELLP, pode aumentar o risco de sangramentos perioperatórios.

Coagulograma

O coagulograma, que inclui tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) e razão normalizada internacional (INR), avalia a capacidade de coagulação. A gravidez é um estado pró-trombótico, mas condições como pré-eclâmpsia ou trombofilias podem alterar a hemostasia, aumentando o risco de hemorragias ou tromboses. Esses exames são indispensáveis em cirurgias obstétricas, especialmente cesarianas, devido ao potencial de sangramento significativo. A dosagem de fibrinogênio pode ser incluída em casos de suspeita de coagulopatia, como na hemorragia pós-parto.

Glicemia de Jejum

A glicemia de jejum é recomendada para avaliar o controle glicêmico, especialmente em gestantes com diabetes gestacional ou diabetes preexistente, condições prevalentes que aumentam o risco de complicações perioperatórias. O diabetes descontrolado pode predispor a infecções pós-operatórias, como endometrite, e retardar a cicatrização. Embora a hemoglobina glicada (HbA1c) seja menos comum na gravidez, pode ser solicitada em casos de diabetes crônico para avaliar o controle glicêmico a longo prazo.

Função Renal e Eletrólitos

Exames como ureia, creatinina e eletrólitos (sódio, potássio, cálcio) avaliam a função renal e o equilíbrio eletrolítico. Alterações renais, como as associadas à pré-eclâmpsia ou infecções urinárias, podem impactar a eliminação de medicamentos anestésicos. Desequilíbrios eletrolíticos, como hipopotassemia ou hipercalemia, podem predispor a arritmias, especialmente em cirurgias sob anestesia geral ou espinhal. Esses testes são cruciais em gestantes com comorbidades ou complicações obstétricas, como hipertensão gestacional.

Função Hepática

Testes de função hepática, como alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e bilirrubinas, são indicados para avaliar a capacidade do fígado de metabolizar medicamentos utilizados no perioperatório. Alterações hepáticas podem ocorrer em condições como pré-eclâmpsia grave, síndrome HELLP ou colestase intra-hepática da gravidez, aumentando o risco de toxicidade medicamentosa ou sangramentos devido à redução de fatores de coagulação. Esses exames são particularmente relevantes em gestantes com sintomas de disfunção hepática.

Tipagem Sanguínea e Teste de Coombs

A tipagem sanguínea (sistema ABO e fator Rh) é essencial em todas as cirurgias obstétricas devido ao risco de hemorragia, especialmente em cesarianas ou procedimentos para gravidez ectópica. O teste de Coombs indireto é importante para identificar incompatibilidades materno-fetais em gestantes Rh-negativas, orientando a administração de imunoglobulina anti-D, se necessário. Esses exames garantem a preparação para transfusões sanguíneas em casos de emergência.

Exames Complementares

Outros exames podem ser indicados conforme o contexto clínico. A urocultura é recomendada em gestantes com histórico de infecções urinárias, comuns na gravidez, para descartar infecções ativas que possam evoluir para sepse pós-operatória. Marcadores inflamatórios, como proteína C reativa (PCR), ajudam a identificar processos infecciosos ou inflamatórios. Em casos de suspeita de trombose venosa, comum na gravidez, a dosagem de dímero-D pode ser considerada, embora sua interpretação deva ser ajustada para o estado gestacional.

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A avaliação pré-operatória para cirurgias obstétricas exige uma abordagem sistemática, com exames laboratoriais que identifiquem riscos hematológicos, metabólicos, infecciosos e hepáticos. Hemograma, coagulograma, glicemia, função renal, hepática, tipagem sanguínea e teste de Coombs formam a base dessa avaliação, sendo complementados por testes específicos conforme as condições da gestante. Essa estratégia, aliada à anamnese detalhada e exames de imagem, garante maior segurança, reduz complicações e promove desfechos favoráveis para a mãe e o feto em procedimentos obstétricos.

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