Exames Laboratoriais Antes de Cirurgias do Sistema Circulatório
Exames Laboratoriais Antes de
Cirurgias do Sistema Circulatório
As cirurgias do sistema circulatório, que englobam procedimentos cardíacos (como revascularização miocárdica e troca valvar) e vasculares (como correção de aneurismas ou bypass periférico), são intervenções de alta complexidade que exigem uma avaliação pré-operatória rigorosa. Exames laboratoriais desempenham um papel crucial na identificação de condições que possam aumentar os riscos cirúrgicos, orientar a escolha da técnica anestésica e prevenir complicações perioperatórias.
Hemograma Completo
O hemograma completo é fundamental para avaliar o estado hematológico do paciente. A contagem de hemácias e hemoglobina é essencial para identificar anemia, que pode comprometer a oxigenação tecidual, especialmente em procedimentos cardíacos que envolvem circulação extracorpórea. Alterações nos leucócitos podem indicar infecções ativas, como endocardite em pacientes com doença valvar, exigindo tratamento prévio. A contagem de plaquetas é crítica, pois valores baixos aumentam o risco de sangramentos, enquanto valores elevados podem predispor a eventos trombóticos, comuns em cirurgias vasculares.
Coagulograma
O coagulograma, que inclui tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) e razão normalizada internacional (INR), avalia a função de coagulação. Esses exames são indispensáveis em cirurgias do sistema circulatório, devido ao alto risco de sangramentos intra e pós-operatórios, especialmente em procedimentos com uso de anticoagulantes ou circulação extracorpórea. Pacientes com histórico de trombose ou em uso de medicamentos como varfarina requerem monitoramento rigoroso do INR. A dosagem de fibrinogênio pode ser incluída em casos de suspeita de distúrbios hemostáticos.
Perfil Glicêmico
A glicemia de jejum e a hemoglobina glicada (HbA1c) são recomendadas para avaliar o controle glicêmico, dado que o diabetes mellitus é uma comorbidade frequente em pacientes com doenças cardiovasculares. O controle glicêmico inadequado aumenta o risco de infecções, como mediastinite pós-cirurgia cardíaca, e retarda a cicatrização em procedimentos vasculares. A HbA1c reflete o controle glicêmico nos últimos meses, permitindo ajustes terapêuticos antes da cirurgia para minimizar complicações.
Função Renal e Eletrólitos
Exames como ureia, creatinina e eletrólitos (sódio, potássio, cálcio) avaliam a função renal e o equilíbrio eletrolítico. Alterações renais, comuns em pacientes com insuficiência cardíaca ou aterosclerose, podem afetar a eliminação de medicamentos anestésicos e contrastes usados em procedimentos vasculares. Desequilíbrios eletrolíticos, como hipopotassemia ou hiperpotassemia, podem predispor a arritmias cardíacas, um risco significativo em cirurgias cardíacas. Esses testes são essenciais para otimizar o estado do paciente antes do procedimento.
Função Hepática
Testes de função hepática, como alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e bilirrubinas, são indicados para avaliar a capacidade do fígado de metabolizar medicamentos anestésicos e anticoagulantes. Alterações hepáticas, frequentemente associadas a insuficiência cardíaca direita ou uso crônico de medicamentos, podem aumentar o risco de toxicidade medicamentosa ou sangramentos devido à produção reduzida de fatores de coagulação.
Perfil Lipídico
O perfil lipídico, incluindo colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos, é importante para avaliar o risco cardiovascular, especialmente em pacientes com doença arterial coronariana ou periférica. Alterações lipídicas podem orientar intervenções pré-operatórias, como o uso de estatinas, para estabilizar placas ateroscleróticas e reduzir complicações cardiovasculares no perioperatório.
Exames Complementares
Outros exames podem ser necessários com base no perfil do paciente. A dosagem de peptídeo natriurético tipo B (BNP) é útil em pacientes com insuficiência cardíaca para avaliar a gravidade da disfunção. Marcadores inflamatórios, como proteína C reativa (PCR), ajudam a descartar processos infecciosos ativos. A tipagem sanguínea é recomendada em procedimentos com risco de sangramento significativo, como cirurgias aórticas, para facilitar transfusões. Em pacientes com suspeita de trombose, a dosagem de dímero-D pode ser indicada.
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A avaliação pré-operatória para cirurgias do sistema circulatório exige uma abordagem sistemática, com exames laboratoriais que identifiquem riscos hematológicos, metabólicos e infecciosos. Hemograma, coagulograma, perfil glicêmico, função renal, hepática e lipídica formam a base dessa avaliação, sendo complementados por testes específicos conforme as comorbidades do paciente. Essa estratégia, aliada a exames de imagem e avaliação cardiológica, garante maior segurança, reduz complicações e promove melhores desfechos clínicos em procedimentos cardíacos e vasculares.
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