Meningocócica (C, ACWY e B)
Meningocócica (C, ACWY e B)
As vacinas meningocócicas, incluindo as contra os sorogrupos C, ACWY e B, são fundamentais na prevenção de doenças meningocócicas invasivas (DMI) causadas pela bactéria Neisseria meningitidis. Essas doenças, como meningite e sepse, são graves, com alta letalidade e risco de sequelas, especialmente em crianças, adolescentes e jovens adultos. Desde a introdução das vacinas meningocócicas, a incidência de DMI diminuiu significativamente em regiões com alta cobertura vacinal.
A Neisseria meningitidis é uma bactéria Gram-negativa que coloniza a nasofaringe, com transmissão por gotículas respiratórias. Dos 12 sorogrupos identificados, A, B, C, W e Y são os mais associados a DMI. A meningite meningocócica tem uma taxa de letalidade de 10-15%, e até 20% dos sobreviventes podem sofrer sequelas, como perda auditiva ou déficits neurológicos, segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2023). A vacina meningocócica C (MenC) é uma vacina conjugada, introduzida na década de 1990. A vacina ACWY, também conjugada, protege contra os sorogrupos A, C, W e Y, enquanto a vacina contra o sorogrupo B (MenB) utiliza proteínas recombinantes devido à baixa imunogenicidade do polissacarídeo capsular do sorogrupo B. No Brasil, a MenC foi incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 2010, administrada aos 3, 5 e 12 meses, com a ACWY recomendada para adolescentes desde 2020.
O mecanismo de ação das vacinas conjugadas (MenC e ACWY) envolve a conjugação de polissacarídeos capsulares a uma proteína transportadora, como toxoide diftérico, induzindo uma resposta imune dependente de células T. Isso gera anticorpos neutralizantes e memória imunológica, além de reduzir a colonização nasofaríngea, promovendo imunidade de rebanho. A vacina MenB, como a 4CMenB, utiliza antígenos proteicos (fHbp, NadA, NHBA) para estimular anticorpos bactericidas. Estudos, como o de Campbell et al. (2010) no The Lancet, mostram que a MenC tem eficácia superior a 90% contra DMI por sorogrupo C em crianças. A ACWY apresenta eficácia semelhante para os sorogrupos cobertos, conforme Cohn et al. (2017) no Clinical Infectious Diseases. A MenB tem eficácia de 70-85% contra cepas vacinais, segundo Parikh et al. (2017) no New England Journal of Medicine, embora a cobertura varie devido à diversidade genética do sorogrupo B.
A eficácia das vacinas meningocócicas é amplificada pela imunidade de rebanho, particularmente com as vacinas conjugadas. No Reino Unido, a introdução da MenC em 1999 reduziu os casos de DMI por sorogrupo C em 97% em uma década, conforme Ramsay et al. (2003) no The Lancet. No Brasil, a MenC diminuiu em 80% os casos de meningite por sorogrupo C em crianças menores de dois anos entre 2010 e 2015, segundo o Ministério da Saúde (2022). A ACWY, implementada para adolescentes, visa proteger contra o aumento de casos por sorogrupo W, observado em vários países. A MenB, embora não incluída no PNI, é recomendada em situações específicas, como surtos. A proteção é mais duradoura para as vacinas conjugadas, mas a MenB pode requerer doses de reforço devido à diminuição da imunidade.
Os desafios na implementação das vacinas meningocócicas incluem o alto custo, especialmente da MenB e ACWY, limitando sua inclusão em programas nacionais de países de baixa renda. A cobertura global da MenC é de 70% em países que a adotaram, mas a ACWY e a MenB têm alcance limitado, segundo a WHO (2023). No Brasil, a cobertura da MenC é superior a 85%, mas quedas recentes e a introdução parcial da ACWY para adolescentes aumentam o risco de surtos. A logística, incluindo cadeia de frio e administração intramuscular, é outro obstáculo, assim como a hesitação vacinal, alimentada por desinformação. A diversidade de sorogrupos e a variabilidade genética do sorogrupo B complicam a universalização da proteção.
O impacto das vacinas meningocócicas na saúde pública é significativo. No Brasil, a MenC reduziu a mortalidade por meningite meningocócica em crianças, contribuindo para a queda na mortalidade infantil. Globalmente, as vacinas conjugadas previnem cerca de 500 mil casos de DMI anualmente, segundo Gavi, the Vaccine Alliance (2023). A imunidade de rebanho beneficia populações vulneráveis, como recém-nascidos e imunocomprometidos. Economicamente, as vacinas reduzem custos com hospitalizações e tratamentos de sequelas, aliviando sistemas de saúde. A introdução da ACWY em adolescentes também protege contra surtos emergentes, como os de sorogrupo W na América do Sul.
Apesar dos avanços, a eliminação das DMI enfrenta barreiras. A variabilidade de sorogrupos exige vigilância epidemiológica contínua e adaptação das estratégias vacinais. A inclusão da MenB em programas nacionais é limitada pelo custo e pela necessidade de avaliar a relação custo-efetividade. Expandir o acesso às vacinas ACWY e MenB, especialmente em regiões endêmicas como o cinturão da meningite na África, é uma prioridade. A pesquisa para vacinas de maior cobertura, incluindo novos sorogrupos, é promissora, mas requer investimento.
As vacinas meningocócicas C, ACWY e B são pilares na prevenção de doenças meningocócicas invasivas, com alta eficácia e impacto na redução de casos e mortes. A imunidade de rebanho e a proteção contra sorogrupos prevalentes destacam seu valor. No entanto, desafios como custo, cobertura vacinal e diversidade de sorogrupos exigem esforços globais. Investir em vigilância, educação e acesso equitativo é essencial para maximizar os benefícios dessas vacinas e avançar rumo ao controle das DMI.
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