Poliomielite (VIP - Vacina Inativada Poliomielite e VOP - Vacina Oral Poliomielite)

 Poliomielite
 (VIP - Vacina Inativada Poliomielite e VOP - Vacina Oral Poliomielite)


A poliomielite, uma doença infecciosa causada pelo poliovírus, foi uma das principais causas de paralisia infantil no século XX, afetando milhares de crianças anualmente. As vacinas contra poliomielite, a Vacina Inativada contra Poliomielite (VIP) e a Vacina Oral contra Poliomielite (VOP), desempenharam um papel crucial na redução drástica da incidência global da doença, aproximando o mundo da sua erradicação.

A poliomielite é causada por três sorotipos do poliovírus (1, 2 e 3), um enterovírus transmitido principalmente pela via fecal-oral ou por água e alimentos contaminados. A doença pode variar de infecções assintomáticas a formas graves, com paralisia permanente em cerca de 0,1% a 1% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2023). A VIP, desenvolvida por Jonas Salk em 1955, utiliza poliovírus inativados (mortos) e é administrada por via intramuscular. A VOP, introduzida por Albert Sabin em 1961, contém poliovírus vivos atenuados e é administrada oralmente. Ambas as vacinas são altamente eficazes, mas suas indicações e usos variam conforme o contexto epidemiológico e os sistemas de saúde.

O mecanismo de ação da VIP baseia-se na indução de imunidade humoral, estimulando a produção de anticorpos neutralizantes contra os três sorotipos do poliovírus. Esses anticorpos, detectáveis no sangue, previnem a disseminação do vírus para o sistema nervoso central, reduzindo o risco de paralisia. Estudos, como o de Plotkin et al. (2015) publicado no Clinical Infectious Diseases, indicam que a VIP confere proteção superior a 95% após três doses, administradas geralmente aos 2, 4 e 6 meses de idade, com reforços posteriores. A VOP, por sua vez, além de induzir imunidade humoral, estimula a imunidade mucosal no trato intestinal, reduzindo a transmissão do vírus. A VOP é mais eficaz na interrupção de surtos em áreas endêmicas, com taxas de proteção semelhantes às da VIP, conforme demonstrado por Grassly et al. (2010) no The Lancet. No entanto, a VOP pode, em raros casos, causar poliomielite associada à vacina (VAPP) ou gerar poliovírus derivados da vacina (VDPV), que podem circular em comunidades com baixa cobertura vacinal.

A eficácia das vacinas contra poliomielite é comprovada pelo sucesso das campanhas globais de imunização. Desde o lançamento da Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite (GPEI) em 1988, liderada pela OMS, a incidência de poliomielite caiu mais de 99,9%, de 350 mil casos anuais para menos de 100 casos em 2022, restritos a áreas como Afeganistão e Paquistão (WHO, 2023). A VIP é preferida em países desenvolvidos ou onde a poliomielite foi eliminada, devido à sua segurança e ausência de risco de VAPP. A VOP, por sua facilidade de administração e baixo custo, é amplamente utilizada em campanhas em massa em regiões endêmicas, embora a OMS recomende a transição para a VIP à medida que a erradicação avança, para evitar casos de VDPV.

Os desafios associados às vacinas contra poliomielite incluem barreiras logísticas e sociais. A VIP requer administração por profissionais treinados e manutenção da cadeia de frio, o que pode ser um obstáculo em áreas remotas. A VOP, embora mais prática, enfrenta o risco de VAPP (estimado em 1 caso por 2,7 milhões de doses) e VDPV, que exige monitoramento rigoroso. Além disso, a hesitação vacinal, impulsionada por desinformação, e conflitos em regiões endêmicas dificultam a cobertura vacinal. No Brasil, onde a poliomielite foi eliminada em 1994, a cobertura vacinal caiu abaixo dos 95% recomendados em algumas regiões, aumentando o risco de reintrodução do vírus, conforme alertado pelo Ministério da Saúde (2022).

O impacto das vacinas contra poliomielite na saúde pública é monumental. No Brasil, o PNI incorpora a VIP no esquema de rotina (aos 2, 4 e 6 meses, com reforços aos 15 meses e 4 anos) e utiliza a VOP em campanhas nacionais para manter a imunidade de rebanho. Globalmente, a erradicação do poliovírus tipo 2 em 2015 e do tipo 3 em 2019 demonstra o sucesso das estratégias de vacinação. A imunidade de rebanho, alcançada com coberturas vacinais acima de 90%, é essencial para proteger populações vulneráveis, como crianças não vacinadas ou imunocomprometidas. Além disso, as vacinas contra poliomielite têm benefícios econômicos, reduzindo custos com tratamento de sequelas e reabilitação, que podem ser significativos em casos de paralisia.

Apesar dos avanços, a erradicação total da poliomielite enfrenta obstáculos. A persistência do poliovírus tipo 1 em áreas de conflito, a circulação de VDPV e a necessidade de manter altas taxas de vacinação mesmo em países livres da doença exigem esforços contínuos. A eliminação da VOP em favor da VIP, recomendada pela OMS, requer planejamento cuidadoso para evitar lacunas na imunidade mucosal. Além disso, a educação contínua da população e o fortalecimento dos sistemas de saúde são cruciais para combater a desinformação e garantir o acesso equitativo às vacinas.

As vacinas VIP e VOP transformaram o cenário da poliomielite, reduzindo-a de uma ameaça global a uma doença quase erradicada. A VIP oferece segurança e alta eficácia em contextos de baixa transmissão, enquanto a VOP é valiosa em campanhas de massa, apesar de seus riscos raros. O sucesso contínuo depende de altas coberturas vacinais, vigilância epidemiológica e cooperação internacional. A história da poliomielite demonstra o poder da vacinação na saúde pública, mas também destaca a necessidade de vigilância contínua para alcançar e manter a erradicação global.



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