Tríplice Viral (SCR - Sarampo, Caxumba e Rubéola)
A vacina tríplice viral (SCR), que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, é uma das intervenções mais eficazes na prevenção de doenças virais altamente contagiosas que, historicamente, causaram significativa morbimortalidade global. Essas doenças, causadas por vírus da família Paramyxoviridae (sarampo e caxumba) e Togaviridae (rubéola), afetam principalmente crianças, mas podem ter graves consequências em todas as idades. Desde sua introdução na década de 1960, a vacina SCR tem reduzido drasticamente a incidência dessas doenças, contribuindo para a eliminação regional do sarampo e da rubéola em várias partes do mundo.
O sarampo é uma doença respiratória altamente contagiosa, transmitida por gotículas, que pode causar febre alta, erupções cutâneas e complicações como pneumonia e encefalite, com taxa de letalidade de 1-2% em populações não vacinadas. A caxumba, também transmitida por via respiratória, provoca inchaço das glândulas parótidas e pode levar a complicações como meningite e orquite. A rubéola, embora mais leve, é grave em gestantes, pois pode causar a síndrome da rubéola congênita (SRC), com malformações fetais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2023), antes da vacinação em massa, o sarampo causava cerca de 2,6 milhões de mortes anuais, a caxumba afetava milhões e a rubéola resultava em 100 mil casos de SRC por ano. A vacina SCR, composta por vírus vivos atenuados dos três patógenos, foi introduzida na década de 1970 e é administrada em duas doses (aos 12 e 15 meses no Brasil, pelo Programa Nacional de Imunizações - PNI).
O mecanismo de ação da vacina SCR baseia-se na administração de cepas atenuadas dos vírus, que estimulam uma resposta imune humoral e celular sem causar doença grave. A vacina induz a produção de anticorpos neutralizantes específicos para cada vírus, além de memória imunológica de longo prazo. A imunidade humoral previne a infecção, enquanto a celular limita a replicação viral. Estudos, como o de Griffin et al. (2019) publicado no Clinical Infectious Diseases, mostram que a vacina SCR tem eficácia de 93% contra sarampo após uma dose e 97% após duas doses. Para caxumba, a eficácia é de 78-88% com duas doses, conforme Amirthalingam et al. (2018) no The Lancet. Contra rubéola, a eficácia é superior a 95%, segundo Plotkin et al. (2018) em Vaccines. A vacina também reduz a transmissão, contribuindo para a imunidade de rebanho quando a cobertura vacinal atinge 90-95% para sarampo, devido à sua alta transmissibilidade.
A eficácia da vacina SCR é comprovada pela redução drástica na incidência dessas doenças. No Brasil, a introdução da SCR no PNI em 1992 eliminou o sarampo em 2016 (certificado pela OMS em 2016) e a rubéola em 2010, embora surtos recentes de sarampo (2018-2019) devido à queda na cobertura vacinal tenham interrompido esse status. Globalmente, a vacinação reduziu as mortes por sarampo em 73% entre 2000 e 2020, de 1,1 milhão para 207 mil, segundo a WHO (2023). A caxumba, embora menos letal, viu declínios significativos em países com alta cobertura, e a rubéola congênita foi praticamente eliminada em regiões como as Américas. A imunidade de rebanho é crucial, especialmente para proteger recém-nascidos e gestantes contra a SRC.
Os desafios na implementação da vacina SCR incluem a manutenção de altas coberturas vacinais. A WHO (2023) relata que a cobertura global da primeira dose da SCR foi de 86% em 2022, mas quedas durante a pandemia de COVID-19 aumentaram o risco de surtos. No Brasil, a cobertura caiu abaixo de 80% em algumas regiões, contribuindo para o ressurgimento do sarampo. A hesitação vacinal, alimentada por desinformação, como a falsa associação entre a SCR e autismo (desmentida por estudos como o de Taylor et al., 2014, no Vaccine), é um obstáculo significativo. A logística de administração, que exige cadeia de frio e duas doses, também é desafiadora em áreas remotas. Além disso, a menor eficácia contra caxumba em alguns contextos, devido à diminuição da imunidade, levou à recomendação de doses de reforço em surtos.
O impacto da vacina SCR na saúde pública é profundo. No Brasil, a vacinação reduziu a mortalidade infantil por sarampo e as malformações por rubéola congênita, contribuindo para os objetivos de desenvolvimento sustentável. Globalmente, a SCR previne milhões de casos e mortes anuais, além de reduzir custos com internações e tratamentos de complicações, como encefalite por sarampo ou surdez por SRC. A imunidade de rebanho protege populações vulneráveis, mas requer coberturas consistentemente altas. Economicamente, a vacina é custo-efetiva, com retornos significativos em sistemas de saúde sobrecarregados.
Apesar dos avanços, a eliminação global do sarampo e da rubéola enfrenta barreiras. A alta transmissibilidade do sarampo exige coberturas próximas a 95%, e surtos recentes em países desenvolvidos destacam a vulnerabilidade a quedas na vacinação. A caxumba, embora menos prioritária, requer monitoramento devido à sua persistência. A vigilância epidemiológica, a educação pública e o fortalecimento dos sistemas de saúde são essenciais para combater a hesitação vacinal e garantir o acesso equitativo. A pesquisa para vacinas com maior proteção contra caxumba e estratégias para melhorar a cobertura global é uma prioridade.
A vacina tríplice viral (SCR) é um pilar da saúde pública, com alta eficácia na prevenção de sarampo, caxumba e rubéola. Sua capacidade de induzir imunidade de rebanho e reduzir a morbimortalidade é inegável, mas desafios como hesitação vacinal, quedas na cobertura e logística exigem esforços contínuos. Investir em educação, vigilância e acesso equitativo é crucial para manter os ganhos alcançados e avançar rumo à eliminação global dessas doenças.
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