Varicela (Catapora)

 Varicela
(Catapora)

A vacina contra varicela, também conhecida como catapora, é uma ferramenta essencial na prevenção de uma doença viral altamente contagiosa causada pelo vírus varicela-zoster (VZV), um membro da família Herpesviridae. A varicela é caracterizada por erupções cutâneas pruriginosas, febre e mal-estar, mas pode levar a complicações graves, como pneumonia, encefalite e infecções bacterianas secundárias, especialmente em crianças, adultos e indivíduos imunocomprometidos. Além disso, o VZV permanece latente no organismo, podendo causar herpes-zoster na idade adulta. Desde sua introdução na década de 1990, a vacina contra varicela reduziu significativamente a incidência e as complicações associadas à doença. 

A varicela é transmitida por gotículas respiratórias ou contato direto com as lesões cutâneas, com uma taxa de transmissão de até 90% em indivíduos suscetíveis. Antes da vacinação em massa, a varicela afetava milhões de crianças anualmente, com cerca de 100-150 mortes por ano apenas nos Estados Unidos, segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2020). A vacina contra varicela, desenvolvida por Michiaki Takahashi no Japão na década de 1970 e licenciada em 1995 nos Estados Unidos, utiliza uma cepa atenuada do VZV (cepa Oka). No Brasil, a vacina foi incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 2013, administrada em duas doses (aos 15 meses e 4 anos) como parte da vacina tetraviral (SCR-V, que inclui sarampo, caxumba, rubéola e varicela) ou isoladamente.

O mecanismo de ação da vacina contra varicela baseia-se na administração de vírus vivos atenuados, que estimulam uma resposta imune humoral e celular sem causar doença grave. A vacina induz a produção de anticorpos neutralizantes contra o VZV, que previnem a infecção primária, e uma resposta de células T, que limita a replicação viral e a reativação como herpes-zoster. Estudos, como o de Shapiro et al. (2011) publicado no Journal of Infectious Diseases, demonstram que a vacina tem eficácia de 85-90% contra qualquer forma de varicela após uma dose e 97-99% contra formas graves após duas doses. A imunidade é duradoura, com proteção significativa por pelo menos 10-20 anos, embora a diminuição gradual dos anticorpos possa permitir casos leves de varicela em vacinados, conhecidos como "breakthrough varicella". A vacina também reduz a incidência de herpes-zoster em indivíduos vacinados, conforme Oxman et al. (2005) no New England Journal of Medicine.

A eficácia da vacina contra varicela é amplificada pela imunidade de rebanho, alcançada com coberturas vacinais acima de 80-90%. Nos Estados Unidos, a introdução da vacina reduziu a incidência de varicela em 90% e as hospitalizações em 88% entre 1995 e 2010, segundo o CDC (2020). No Brasil, a incorporação da vacina ao PNI levou a uma queda de 80% nas internações por varicela entre 2013 e 2018, conforme dados do Ministério da Saúde (2022). A vacina também diminui a transmissão do VZV, protegendo populações vulneráveis, como recém-nascidos, gestantes e imunocomprometidos, que não podem ser vacinados. A proteção contra formas graves é particularmente importante, reduzindo complicações como pneumonia e encefalite.

Os desafios na implementação da vacina contra varicela incluem a manutenção de altas coberturas vacinais e questões logísticas. A cobertura global da vacina é limitada, especialmente em países de baixa renda, onde a varicela não é priorizada devido à percepção de menor gravidade. No Brasil, a cobertura da primeira dose da vacina tetraviral é de cerca de 85%, mas a segunda dose frequentemente fica abaixo do recomendado, segundo o Ministério da Saúde (2022). A hesitação vacinal, embora menos comum para a varicela, pode ser influenciada por desinformação sobre vacinas virais, como a falsa associação com autismo, desmentida por estudos como o de Taylor et al. (2014) no Vaccine. A necessidade de cadeia de frio para armazenar a vacina e a administração em duas doses também representam barreiras em regiões com infraestrutura limitada. Além disso, casos de "breakthrough varicella" exigem vigilância para evitar surtos em comunidades com cobertura incompleta.

O impacto da vacina contra varicela na saúde pública é significativo. No Brasil, a redução nas internações e mortes por varicela contribuiu para a diminuição da mortalidade infantil por causas infecciosas. Globalmente, a vacina previne milhões de casos anuais, reduzindo custos com tratamentos de complicações, que podem incluir internações prolongadas e antibioticoterapia para infecções secundárias. A imunidade de rebanho protege grupos de risco, e a diminuição da incidência de varicela também reduz o risco de herpes-zoster em longo prazo, conforme Weinmann et al. (2019) no Clinical Infectious Diseases. Economicamente, a vacinação é custo-efetiva, com retornos significativos em sistemas de saúde sobrecarregados.

Apesar dos avanços, a eliminação completa da varicela enfrenta desafios. A alta transmissibilidade do VZV exige coberturas vacinais próximas a 90% para interromper a circulação do vírus. A persistência de casos leves em vacinados e a possibilidade de surtos em populações com baixa cobertura requerem vigilância epidemiológica contínua. A inclusão da vacina em programas nacionais de países de baixa renda é limitada pelo custo e pela concorrência com outras prioridades de saúde. A pesquisa para vacinas combinadas mais acessíveis e estratégias para aumentar a adesão à segunda dose é essencial.

A vacina contra varicela é um pilar da saúde pública, com alta eficácia na prevenção de formas graves e na redução da transmissão do VZV. Sua capacidade de induzir imunidade de rebanho e diminuir complicações graves destaca seu valor. No entanto, desafios como quedas na cobertura vacinal, barreiras logísticas e desinformação exigem esforços contínuos. Investir em educação, vigilância e acesso equitativo é crucial para consolidar os ganhos alcançados e avançar rumo ao controle global da varicela e suas complicações.



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