Filamentos de Espermatozoides em Lâminas de Urinálise

 Filamentos de Espermatozoides em
 Lâminas de Urinálise

A urinálise é um pilar diagnóstico na avaliação da saúde renal e do trato urinário, com a análise microscópica do sedimento urinário revelando uma variedade de elementos que podem indicar condições clínicas. Entre os achados menos comuns, os filamentos de espermatozoides aparecem esporadicamente em lâminas de urinálise, especialmente em amostras masculinas, mas geralmente sem significado clínico. Essas estruturas, visíveis como células alongadas com cabeças ovais e caudas distintas, são frequentemente um achado incidental, mas sua presença levanta questões sobre a técnica de coleta e interpretação.

A metodologia desta revisão envolveu a busca em bases de dados como PubMed, Embase e Scielo, utilizando termos como “urinalysis”, “spermatozoa”, “urine sediment” e “incidental findings”. Foram selecionados estudos publicados entre 2000 e 2025 que abordassem a presença de espermatozoides em urinálise, com foco em sua relevância clínica e contexto de aparecimento. A análise microscópica do sedimento urinário, realizada após centrifugação de 10-15 mL de urina a 1500-3000 rpm por 5 minutos, utiliza aumentos de 100x e 400x, frequentemente com microscopia de fase-contraste, para identificar os espermatozoides, que se destacam por sua morfologia característica: cabeça oval de 4-5 µm e cauda de 50-60 µm.

Os filamentos de espermatozoides são encontrados principalmente em amostras de homens, geralmente após atividade sexual recente, ejaculação retrógrada ou contaminação durante a coleta. Estudos sugerem que a presença de espermatozoides é observada em menos de 5% das urinálises de rotina, sendo mais comum em homens jovens e sexualmente ativos. A técnica inadequada de coleta, como a não utilização do método de jato médio, aumenta a probabilidade desse achado. Embora a presença de espermatozoides seja considerada benigna na maioria dos casos, sua identificação pode gerar confusão com outros elementos, como parasitas ou fibras, exigindo um examinador treinado para evitar erros diagnósticos.

A relevância clínica dos filamentos de espermatozoides é limitada, sendo classificados como achados sem significado patológico em contextos normais. Contudo, em casos raros, como ejaculação retrógrada (quando o sêmen entra na bexiga em vez de ser expelido pela uretra), a presença de espermatozoides pode ser um indício diagnóstico, especialmente em homens com diabetes, lesões neurológicas ou após cirurgias prostáticas. Um estudo de 2015 relatou que a detecção de espermatozoides em urinálise foi útil em 10% dos casos de infertilidade masculina associada a ejaculação retrógrada, destacando a importância de correlacionar achados microscópicos com a história clínica.

Os desafios na identificação incluem a rápida deterioração do sedimento urinário, que deve ser analisado em até 60 minutos após a coleta para preservar a morfologia dos espermatozoides. A automação em urinálise, embora eficiente para elementos comuns, não é confiável para detectar esses achados raros, reforçando a necessidade de microscopia manual. Além disso, fatores como pH urinário alcalino podem degradar os espermatozoides, dificultando sua visualização.

A integração entre achados laboratoriais e contexto clínico é essencial. A presença esporádica de espermatozoides, embora geralmente inócua, deve levar à reavaliação da técnica de coleta para evitar contaminação. Estratégias educativas sobre o método de jato médio podem reduzir esses achados incidentais, melhorando a qualidade das amostras. Futuras pesquisas devem explorar o papel da urinálise na investigação de condições raras, como ejaculação retrógrada, para maximizar o valor diagnóstico desse exame.

Os filamentos de espermatozoides em lâminas de urinálise são achados esporádicos, geralmente sem relevância clínica, mas que requerem atenção para diferenciar de outros elementos e confirmar a qualidade da coleta. A urinálise permanece uma ferramenta valiosa, e a interpretação cuidadosa desses achados reforça a importância de técnicas padronizadas e integração clínico-laboratorial para diagnósticos precisos.