Leveduras em Lâminas de Urinálise

Leveduras em Lâminas de Urinálise


A urinálise é um exame diagnóstico essencial, fornecendo informações cruciais sobre a saúde renal e do trato urinário por meio da análise microscópica do sedimento urinário. Entre os achados menos comuns, as leveduras, particularmente espécies do gênero Candida, como Candida albicans, são frequentemente observadas em lâminas de urinálise, aparecendo como células ovais com brotamentos ou pseudohifas. Esses elementos podem indicar infecções urinárias ou contaminação vaginal, especialmente em mulheres. 

A metodologia envolveu a busca em bases de dados como PubMed, Embase e Scielo, utilizando termos como “urinalysis”, “Candida spp.”, “yeast”, “pseudohyphae” e “urine sediment”. Foram selecionados estudos publicados entre 2000 e 2025 que abordassem a detecção de leveduras em urinálise, com foco em sua relevância diagnóstica. A análise microscópica do sedimento, realizada após centrifugação de 10-15 mL de urina a 1500-3000 rpm por 5 minutos, utiliza microscópios ópticos com aumentos de 100x e 400x, preferencialmente com fase-contraste. Leveduras aparecem como células ovais de 3-7 µm, com brotamentos ou pseudohifas alongadas, características de Candida spp.

As leveduras, especialmente Candida spp., são comumente encontradas em urinálise devido à contaminação vaginal em mulheres ou como indicadores de infecções do trato urinário (ITUs) em pacientes imunocomprometidos, diabéticos ou com uso prolongado de cateteres. A candidúria, definida como a presença de Candida na urina, pode ser assintomática ou associada a sintomas como disúria e urgência urinária. Estudos estimam que Candida spp. estão presentes em 10-20% das urinálises de pacientes hospitalizados, sendo C. albicans a espécie mais comum, seguida por C. glabrata e C. tropicalis.

A relevância clínica das leveduras em urinálise varia. Em mulheres saudáveis, a presença de Candida frequentemente reflete contaminação vaginal, especialmente quando acompanhada de células epiteliais escamosas e fios mucosos. Contudo, em pacientes com fatores de risco, como diabetes, imunossupressão ou uso de antibióticos de amplo espectro, a candidúria pode indicar uma ITU fúngica, que requer tratamento antifúngico. Um estudo de 2019 relatou que a presença de pseudohifas em urinálise tem especificidade de 85% para infecções por Candida em pacientes com cateter urinário, destacando a importância de correlacionar achados microscópicos com o contexto clínico.

A identificação de leveduras exige microscopia imediata, pois a viabilidade das células diminui rapidamente após a coleta, idealmente em até 30-60 minutos. A microscopia de fase-contraste é essencial para visualizar brotamentos e pseudohifas, que distinguem Candida de outros elementos, como hemácias ou debris celulares. A automação em urinálise, embora eficaz para detectar células ou cristais, não é confiável para identificar leveduras, reforçando a necessidade de análise manual por examinadores experientes. Testes complementares, como cultura de urina ou PCR, são frequentemente necessários para confirmar a infecção e identificar a espécie.

Os desafios na detecção incluem a deterioração rápida do sedimento e a possibilidade de falsos positivos devido à contaminação vaginal. A semelhança entre leveduras e outros elementos, como glóbulos gordurosos, pode levar a erros, exigindo treinamento para diferenciação. A coleta inadequada, sem o uso da técnica de jato médio, aumenta a probabilidade de contaminação, especialmente em mulheres. Fatores como pH urinário alcalino ou uso de antifúngicos prévios podem reduzir a visualização de leveduras, complicando o diagnóstico.

A integração entre achados microscópicos e contexto clínico é crucial. A presença de leveduras deve levar à investigação de fatores de risco, como diabetes ou uso de cateter, e à realização de culturas para confirmar a infecção. Estratégias educativas sobre a coleta por jato médio podem minimizar a contaminação, melhorando a acurácia diagnóstica. Além disso, a diferenciação entre candidúria assintomática e ITU fúngica requer avaliação cuidadosa para evitar tratamentos desnecessários.

Os avanços na detecção de Candida spp. incluem testes rápidos baseados em imunocromatografia e técnicas moleculares, que oferecem maior sensibilidade. No entanto, a microscopia permanece acessível e valiosa, especialmente em laboratórios com recursos limitados. Pesquisas futuras devem explorar métodos automatizados para identificar leveduras em urinálise, otimizando o diagnóstico sem comprometer a precisão.

A gestão da candidúria exige uma abordagem integrada, combinando diagnóstico laboratorial, tratamento antifúngico (como fluconazol) quando indicado e manejo dos fatores de risco. A educação de pacientes e profissionais de saúde sobre a coleta adequada e os riscos da automedicação com antifúngicos é essencial para prevenir complicações, como resistência fúngica.

As leveduras, particularmente Candida spp., em lâminas de urinálise são achados que podem refletir contaminação vaginal ou infecções urinárias significativas. Sua identificação exige técnicas precisas, microscopia manual e integração clínico-laboratorial para evitar erros diagnósticos. A urinálise permanece uma ferramenta valiosa, e a interpretação cuidadosa desses achados, aliada a estratégias educativas e testes confirmatórios, é fundamental para garantir diagnósticos precisos e tratamentos eficazes.



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