Um pouco sobre o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Anemia na Doença Renal Crônica de 2023
Um pouco sobre o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da
Anemia na Doença Renal Crônica de 2023
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Anemia na Doença Renal Crônica (DRC), publicado em 2023 pelo Ministério da Saúde do Brasil, por meio da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), é um documento baseado em evidências científicas que estabelece diretrizes para o diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes com anemia associada à DRC no SUS. Este protocolo, atualizado a partir da Portaria nº 365 de 15 de fevereiro de 2017, unifica as recomendações para reposição de ferro e uso de alfaepoetina, visando padronizar condutas clínicas com base em critérios de eficácia, segurança, efetividade e custo-efetividade, promovendo equidade no acesso ao tratamento.
A anemia na DRC é uma complicação frequente, resultante principalmente da redução na produção de eritropoetina pelos rins, deficiência de ferro e inflamação crônica associada à doença. Estima-se que até 90% dos pacientes com DRC em estágios avançados (estágios 4 e 5) apresentem anemia, definida por níveis de hemoglobina abaixo de 13 g/dL em homens e 12 g/dL em mulheres. A condição contribui para sintomas como fadiga, dispneia, redução da capacidade funcional e maior risco de eventos cardiovasculares, impactando significativamente a qualidade de vida. O PCDT enfatiza a importância do diagnóstico precoce, baseado em exames laboratoriais como hemograma, ferritinemia, saturação de transferrina e avaliação da função renal (taxa de filtração glomerular estimada – eTFG).
O protocolo estabelece um fluxograma diagnóstico que diferencia a anemia da DRC de outras causas, como deficiência de ferro isolada ou anemias inflamatórias, recomendando a exclusão de condições como sangramentos, deficiências de vitamina B12 ou ácido fólico e hemólise. O tratamento é escalonado, iniciando com a correção da deficiência de ferro, preferencialmente por via oral com sulfato ferroso (dose diária de 200-300 mg de ferro elementar) em pacientes com DRC não dialítica e ferritina < 100 ng/mL ou saturação de transferrina < 20%. Para pacientes em diálise ou com má absorção, a reposição de ferro intravenoso (como sacarato de hidróxido férrico) é indicada, com monitoramento para evitar sobrecarga de ferro (ferritina > 500 ng/mL).
Quando a reposição de ferro é insuficiente para corrigir a anemia, o uso de agentes estimulantes da eritropoiese, como a alfaepoetina, é recomendado, especialmente em pacientes com hemoglobina < 10 g/dL. A dose inicial varia de 50 a 150 UI/kg por semana, ajustada para manter hemoglobina entre 10 e 11,5 g/dL, evitando níveis > 13 g/dL devido ao risco de eventos cardiovasculares. O protocolo destaca a necessidade de monitoramento mensal da hemoglobina e trimestral da ferritina e saturação de transferrina, com ajustes terapêuticos individualizados. Além disso, recomendações incluem suplementação de ácido fólico em casos específicos e manejo de comorbidades como hipertensão e inflamação.
Na prática clínica, o PCDT enfatiza a educação do paciente e a atuação de equipes multiprofissionais, incluindo nefrologistas, hematologistas, nutricionistas e enfermeiros, para garantir adesão ao tratamento e minimizar complicações. A abordagem integrada visa não apenas corrigir a anemia, mas também atenuar a progressão da DRC, reduzindo a morbimortalidade. O protocolo reconhece desafios, como acesso a medicamentos e insumos no SUS, mas reforça a importância de condutas padronizadas para otimizar recursos e melhorar desfechos clínicos.
A base científica do PCDT é sustentada por revisões sistemáticas, ensaios clínicos randomizados e diretrizes internacionais, como as do Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO). A atualização de 2023 incorpora avanços no manejo da anemia, unificando os protocolos de reposição de ferro e alfaepoetina para maior clareza e aplicabilidade. A consulta pública (Conitec/SECTICS nº 41/2023) permitiu contribuições de profissionais, pacientes e sociedade, assegurando que as recomendações reflitam as necessidades do sistema de saúde brasileiro.
Assim, o PCDT da Anemia na DRC de 2023 é uma ferramenta robusta que orienta a prática clínica com base em evidências, promovendo diagnóstico preciso, tratamento eficaz e acompanhamento contínuo, com impacto positivo na qualidade de vida e na gestão da DRC no SUS.
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