Células Epiteliais Renais em Lâminas de Urinálise
A urinálise é um exame diagnóstico essencial, amplamente utilizado para avaliar a saúde renal e do trato urinário, com a análise microscópica do sedimento urinário sendo fundamental para identificar elementos patológicos. Entre os achados raros, as células epiteliais renais, originadas dos túbulos renais, são indicadores de lesão tubular, frequentemente associadas a condições como necrose tubular aguda (NTA) ou nefrite intersticial.
A metodologia envolveu a busca em bases de dados como PubMed, Embase e Scielo, utilizando termos como “urinalysis”, “renal epithelial cells”, “urine sediment” e “tubular injury”. Foram selecionados estudos publicados entre 2000 e 2025 que abordassem a detecção e o significado clínico dessas células. A análise microscópica do sedimento, realizada após centrifugação de 10-15 mL de urina a 1500-3000 rpm por 5 minutos, utiliza microscópios ópticos com aumentos de 100x e 400x, preferencialmente com fase-contraste. Células epiteliais renais aparecem como células grandes, com núcleo proeminente e citoplasma granular, distinguindo-se de células epiteliais escamosas ou de transição.
As células epiteliais renais são liberadas na urina devido a lesões nos túbulos proximais ou distais, frequentemente em condições como NTA, nefrite intersticial induzida por medicamentos ou isquemia renal. Sua presença é rara em indivíduos saudáveis, mas comum em pacientes com insuficiência renal aguda (IRA) ou crônica (IRC). Estudos indicam que células epiteliais renais estão presentes em 50-70% das urinálises de pacientes com NTA, refletindo desprendimento epitelial causado por insultos tóxicos ou hipóxicos.
A relevância clínica dessas células reside em sua alta especificidade para lesão tubular. Um estudo de 2019 relatou que a detecção de células epiteliais renais tem um valor preditivo positivo de 90% para NTA em pacientes com IRA, especialmente quando acompanhada de cilindros epiteliais ou granulosos. Sua presença também pode indicar nefrite intersticial, como em casos de toxicidade por anti-inflamatórios não esteroides ou antibióticos, exigindo correlação com o contexto clínico para um diagnóstico preciso.
A identificação de células epiteliais renais é desafiadora devido à sua raridade e semelhança com outras células epiteliais, como as de transição. A microscopia de fase-contraste é crucial para visualizar o núcleo grande e o citoplasma granular, diferenciando-as de células escamosas, que são maiores e com núcleo pequeno. A análise deve ser realizada em até 60 minutos após a coleta, pois a lise celular pode obscurecer essas estruturas. A automação em urinálise não é confiável para identificar essas células, reforçando a necessidade de microscopia manual por examinadores experientes.
Os desafios incluem a variabilidade na preparação do sedimento e a influência de fatores como pH urinário ou medicamentos nefrotóxicos, que podem alterar a morfologia celular. A coleta inadequada, como amostras contaminadas por células escamosas vaginais, pode dificultar a interpretação. A baixa prevalência de células epiteliais renais em populações saudáveis exige treinamento para evitar falsos negativos, especialmente em amostras com poucos elementos.
A integração entre achados microscópicos e contexto clínico é essencial. A presença de células epiteliais renais deve levar à investigação de IRA, nefrite intersticial ou outras causas de lesão tubular, com exames como creatinina sérica, eletrólitos e biópsia renal, quando indicado. A correlação com outros achados urinários, como hematúria ou proteinúria, fortalece o diagnóstico. Estratégias educativas para técnicos podem melhorar a identificação, enquanto a padronização da coleta por jato médio minimiza interferências.
Os avanços na detecção incluem microscópios de alta resolução e técnicas de imagem digital, que facilitam a visualização de detalhes celulares. Pesquisas futuras devem explorar métodos automatizados com inteligência artificial para identificar células raras, aumentando a eficiência diagnóstica. Estudos epidemiológicos sobre a prevalência de células epiteliais renais em diferentes condições renais podem esclarecer seu valor prognóstico.
A gestão de pacientes com células epiteliais renais exige uma abordagem multidisciplinar, combinando diagnóstico laboratorial, manejo clínico e monitoramento renal. A identificação precoce pode orientar intervenções como hidratação agressiva ou retirada de agentes nefrotóxicos, prevenindo a progressão da lesão renal. A educação de pacientes sobre adesão ao tratamento é crucial.
As células epiteliais renais em lâminas de urinálise são marcadores raros e específicos de lesão tubular, como NTA ou nefrite intersticial. Sua identificação exige técnicas precisas, microscopia manual e integração clínico-laboratorial para evitar erros diagnósticos. A urinálise permanece indispensável, e a interpretação cuidadosa desses achados, aliada a testes complementares, é fundamental para diagnósticos precisos e tratamentos eficazes, impactando a gestão de doenças renais.
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