Células Epiteliais Transicionais em Lâminas de Urinálise

Células Epiteliais Transicionais em Lâminas de Urinálise




A urinálise é um exame diagnóstico essencial para avaliar a saúde do trato urinário, com a análise microscópica do sedimento urinário sendo fundamental para identificar elementos patológicos ou fisiológicos. As células epiteliais transicionais, originadas do revestimento da pelve renal, ureteres, bexiga e uretra proximal, são frequentemente observadas em lâminas de urinálise e podem indicar desde condições fisiológicas até patologias como infecções ou tumores.

A metodologia envolveu a busca em bases de dados como PubMed, Embase e Scielo, utilizando termos como “urinalysis”, “transitional epithelial cells”, “urine sediment” e “urothelial pathology”. Foram selecionados estudos publicados entre 2000 e 2025 que abordassem a detecção e o significado clínico dessas células. A análise microscópica do sedimento, realizada após centrifugação de 10-15 mL de urina a 1500-3000 rpm por 5 minutos, utiliza microscópios ópticos com aumentos de 100x e 400x, preferencialmente com fase-contraste. Células epiteliais transicionais aparecem como células polimórficas, maiores que leucócitos, com núcleo central e citoplasma abundante, distinguindo-se de células escamosas ou renais.

As células epiteliais transicionais são liberadas na urina devido ao turnover normal do epitélio urotelial, mas sua presença em grande quantidade pode indicar condições patológicas, como infecções do trato urinário (ITUs), cálculos urinários ou carcinoma urotelial. Em indivíduos saudáveis, pequenas quantidades (1-2 por campo de grande aumento) são consideradas normais. Estudos indicam que essas células estão presentes em 10-20% das urinálises de rotina, com maior prevalência em pacientes com cistite ou manipulação urológica, como cateterismo.

A relevância clínica das células epiteliais transicionais depende da quantidade e do contexto. Em ITUs, sua presença pode acompanhar bacteriúria e piúria, refletindo inflamação urotelial. Um estudo de 2020 relatou que a detecção de células transicionais em quantidades moderadas a altas tem um valor preditivo positivo de 70% para cistite em pacientes com disúria. Em casos raros, a presença de células atípicas pode sugerir carcinoma urotelial, especialmente em pacientes com hematúria macroscópica ou fatores de risco, como tabagismo, exigindo investigação citológica ou cistoscopia.

A identificação dessas células é desafiadora devido à sua semelhança com outras células epiteliais, como as renais ou escamosas. A microscopia de fase-contraste é essencial para visualizar o núcleo central e a forma polimórfica, diferenciando-as de leucócitos ou debris celulares. A análise deve ser realizada em até 60 minutos após a coleta, pois a lise celular pode obscurecer as estruturas. A automação em urinálise não é confiável para identificar células epiteliais transicionais, reforçando a necessidade de microscopia manual por examinadores experientes.

Os desafios incluem a variabilidade na preparação do sedimento e a influência de fatores como pH urinário ou manipulação urológica, que podem aumentar a liberação de células. A coleta inadequada, como amostras contaminadas por secreções vaginais, pode introduzir células escamosas, dificultando a diferenciação. A baixa prevalência de células transicionais atípicas exige treinamento para evitar falsos negativos, especialmente em casos suspeitos de malignidade.

A integração entre achados microscópicos e contexto clínico é crucial. A presença de células epiteliais transicionais em grande quantidade deve levar à investigação de ITUs, cálculos ou lesões uroteliais, com exames como urocultura, ultrassonografia ou citologia urinária. A correlação com sintomas como hematúria ou dor pélvica fortalece o diagnóstico. Estratégias educativas para técnicos podem melhorar a identificação, enquanto a padronização da coleta por jato médio minimiza interferências.

Os avanços na detecção incluem microscópios de alta resolução e técnicas de imagem digital, que facilitam a visualização de detalhes celulares. Pesquisas futuras devem explorar métodos automatizados com inteligência artificial para identificar células raras, aumentando a eficiência diagnóstica. Estudos epidemiológicos sobre a prevalência de células transicionais em diferentes condições urológicas podem esclarecer seu valor prognóstico.

A gestão de pacientes com células epiteliais transicionais depende do contexto. Em ITUs, a antibioticoterapia é indicada, enquanto suspeitas de carcinoma requerem avaliação urológica. A educação de pacientes sobre prevenção de ITUs e acompanhamento médico é essencial.

As células epiteliais transicionais em lâminas de urinálise são achados comuns, com significado clínico que varia de fisiológico a patológico. Sua identificação exige técnicas precisas, microscopia manual e integração clínico-laboratorial para evitar erros diagnósticos. A urinálise permanece indispensável, e a interpretação cuidadosa desses achados, aliada a testes complementares, é fundamental para diagnósticos precisos e tratamentos eficazes, impactando a gestão de condições urológicas.

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