Compreendendo a Biópsia por Agulha Grossa (Core Biopsy)
Compreendendo a Biópsia por
Agulha Grossa (Core Biopsy)
A Biópsia por Agulha Grossa, também conhecida como Core Biopsy, é um procedimento médico minimamente invasivo projetado para a coleta de fragmentos de tecido de lesões ou órgãos suspeitos, permitindo uma análise histopatológica detalhada que vai além da mera citologia celular. Diferentemente da Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF), que aspira apenas células isoladas, a Core Biopsy utiliza uma agulha mais calibrosa, tipicamente de 14 a 18 gauge, acoplada a um dispositivo automático como uma pistola de biópsia, para extrair amostras cilíndricas de tecido que preservam a arquitetura celular e tecidual, facilitando diagnósticos mais precisos de condições como neoplasias malignas ou benignas. Desenvolvida e aprimorada a partir da década de 1990 com o avanço de tecnologias de imagem, essa técnica tornou-se padrão em diversas especialidades médicas, como mastologia, radiologia intervencionista e oncologia, devido à sua capacidade de reduzir a necessidade de cirurgias exploratórias, oferecendo resultados com alta sensibilidade e especificidade, frequentemente superiores a 95% em lesões mamárias. Seu uso cresceu exponencialmente com a integração de guiamentos por imagem, tornando-a uma ferramenta indispensável no diagnóstico precoce de cânceres, especialmente de mama, onde representa o método de escolha para lesões sólidas visíveis ao ultrassom.
As indicações para a Core Biopsy são amplas e baseadas em achados clínicos e de imagem que sugerem anormalidades. Na mama, é recomendada para nódulos palpáveis ou detectados por mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética, particularmente aqueles classificados como BI-RADS 4 (suspeita moderada de malignidade) ou BI-RADS 5 (alta suspeita), incluindo massas espiculadas, microcalcificações agrupadas ou distorções arquiteturais. Além disso, é indicada para lesões complexas sólido-císticas, fibroadenomas, tumores filoideos ou em casos de alto risco, como pacientes com histórico familiar de câncer, exposição à radiação ou dificuldades no seguimento radiológico. Fora da mama, aplica-se a nódulos tireoidianos suspeitos, lesões hepáticas como tumores ou cirrose, nódulos pulmonares, renais, linfomas, sarcomas e até lesões ósseas acessíveis, onde auxilia na diferenciação entre processos infecciosos, inflamatórios e neoplásicos. Em contextos oncológicos, permite não apenas confirmar malignidade, mas também avaliar tipo histológico, grau tumoral e invasão linfovascular, embora com algumas limitações na precisão para esses últimos aspectos. Não é o método inicial para todas as lesões; por exemplo, em cistos simples ou lesões de baixo risco (BI-RADS 3), pode ser precedida por vigilância ou PAAF, reservando a Core Biopsy para casos de persistência ou agravamento.
A preparação para o exame é relativamente simples, não exigindo jejum ou interrupção rotineira de atividades diárias. O paciente deve informar o médico sobre medicamentos em uso, especialmente anticoagulantes como varfarina, aspirina ou heparina, que podem aumentar o risco de sangramento e necessitar de suspensão temporária sob orientação especializada. Alergias a anestésicos locais ou contrastes também devem ser relatadas. Recomenda-se levar exames prévios de imagem para planejamento preciso, e o consentimento informado é obtido, explicando o procedimento, benefícios e potenciais riscos, o que ajuda a mitigar ansiedade. Em centros especializados, uma avaliação prévia com ultrassom ou tomografia pode ser realizada para localizar a lesão e escolher o melhor acesso, promovendo segurança e eficácia.
O procedimento é executado em ambiente ambulatorial, durando de 15 a 45 minutos, e geralmente guiado por ultrassonografia em tempo real para maior precisão, embora tomografia ou estereotaxia mamográfica sejam opções para lesões profundas ou impalpáveis. Inicialmente, a paciente é posicionada em decúbito dorsal ou oblíquo, com o braço ipsilateral elevado para expor a área. A pele é desinfetada com antisséptico, e anestesia local com lidocaína (sem vasoconstritor) é infiltrada ao longo do trajeto da agulha, minimizando o desconforto, que é descrito como uma pressão ou picada moderada. Uma pequena incisão de 2-3 mm é feita com bisturi, e a agulha grossa é inserida paralelamente à parede torácica, perpendicular ao transdutor ultrassonográfico, evitando estruturas vitais. Com o disparo da pistola automática, fragmentos cilíndricos (mínimo de cinco para amostra adequada) são coletados em diferentes ângulos da lesão, confirmados ecograficamente nos planos transversal e longitudinal. As amostras são fixadas em formalina 10% e enviadas para análise histopatológica, que inclui colorações como hematoxilina-eosina e imunohistoquímica para marcadores tumorais. Em lesões móveis ou profundas, técnicas adicionais como compressão ou angulação da agulha são empregadas.
Após o exame, o paciente é observado por 15-30 minutos para detectar complicações imediatas, como hematoma ou dor, e um curativo compressivo é aplicado, sem necessidade de suturas. Recomenda-se repouso relativo nas primeiras 24 horas, evitando esforços físicos, molhar o local ou dirigir, e o uso de compressas frias e analgésicos como paracetamol para alívio. Atividades leves podem ser retomadas no dia seguinte, mas exercícios intensos são contraindicados por três dias. Os resultados estão disponíveis em 3 a 10 dias, classificando a lesão como benigna, de alto risco ou maligna, com detalhes sobre tipo histológico e grau, orientando o manejo, como vigilância, excisão cirúrgica ou quimioterapia.
Apesar de segura, a Core Biopsy apresenta riscos, embora raros e geralmente leves, com incidência inferior a 1% para complicações graves. Os mais comuns incluem hematoma local, sangramento, infecção ou dor persistente, resolvíveis com cuidados conservadores; reações vasovagais como tontura ocorrem em pacientes ansiosos. Contraindicações relativas envolvem coagulopatias não controladas, infecções cutâneas ou lesões inacessíveis. Em raros casos, há subestimação da agressividade tumoral, com concordância de 97% para tipo histológico, mas apenas 50% para grau e 62% para invasão linfovascular, podendo exigir rebiópsia em até 18% dos casos devido a discordâncias clinicorradiológicas ou amostras inadequadas.
As vantagens da Core Biopsy são evidentes: proporciona amostras de alta qualidade para histologia, diferenciando carcinomas in situ de invasivos com sensibilidade de 96%, superior à PAAF, e é mais tolerável e econômica que biópsias cirúrgicas, reduzindo internações e custos. No entanto, limitações incluem ineficácia em lesões inaparentes ao ultrassom, como microcalcificações puras, onde a biópsia vácuo-assistida é preferível, e taxas de falso-negativos de 0,4% a 1,1% em lesões fibrosas ou necróticas. Dependente da experiência do operador e do patologista, pode não capturar heterogeneidades tumorais, demandando complementação com outras técnicas em tumores complexos.
A Core Biopsy consolida-se como um pilar no arsenal diagnóstico moderno, equilibrando invasividade mínima com acurácia elevada, especialmente no combate ao câncer de mama, responsável por milhares de casos anuais no Brasil. Sua evolução, integrada a imagens avançadas e análises moleculares, continua a refinar diagnósticos, promovendo intervenções precoces e personalizadas, enquanto minimiza riscos e otimiza o cuidado ao paciente de maneira ética e eficiente.
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