Diagnóstico do Transtorno Dissociativo

 Diagnóstico do Transtorno Dissociativo



De acordo com o DSM-5, os transtornos dissociativos são caracterizados por sintomas como amnésia inexplicada, sensação de desconexão do self ou do ambiente, e, no caso do TID, a presença de duas ou mais identidades distintas que assumem o controle do comportamento do indivíduo. Esses sintomas devem causar sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes. A prevalência de transtornos dissociativos varia, mas estudos, como os publicados no Journal of Trauma & Dissociation, estimam que o TID afeta cerca de 1-3% da população geral, enquanto a despersonalização/desrealização pode ser mais comum, especialmente em contextos de trauma.

A base para o diagnóstico é uma anamnese psiquiátrica detalhada conduzida por um profissional capacitado, geralmente um psiquiatra ou psicólogo clínico com experiência em transtornos dissociativos. A entrevista deve explorar o histórico de sintomas dissociativos, eventos traumáticos (como abuso na infância, negligência ou violência), e a presença de comorbidades, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão ou transtornos de ansiedade, que frequentemente coexistem. Ferramentas como a Dissociative Experiences Scale (DES) são amplamente utilizadas para rastrear sintomas dissociativos, com escores elevados indicando a necessidade de uma avaliação mais aprofundada. Para o TID, instrumentos específicos, como a Structured Clinical Interview for DSM-5 Dissociative Disorders (SCID-D), oferecem maior precisão ao identificar padrões de alternância de identidades e amnésia.

A perspectiva integrativa exige a consideração de fatores psicossociais e neurobiológicos. A literatura científica, como revisões publicadas no American Journal of Psychiatry, aponta que os transtornos dissociativos frequentemente estão associados a traumas precoces, que podem alterar circuitos neurais relacionados à regulação emocional e à integração da memória. Neuroimaging funcional tem mostrado hiperativação da amígdala e hipoativação do córtex pré-frontal em pacientes com TID, sugerindo uma base neurobiológica para a fragmentação da consciência. Assim, o clínico deve investigar eventos de vida adversos, mas com cuidado para evitar sugestões que possam influenciar falsos relatos.

A exclusão de outras condições é um passo crítico. Sintomas dissociativos podem ser mimetizados por transtornos neurológicos (como epilepsia do lobo temporal), intoxicação por substâncias, ou transtornos psiquiátricos, como transtorno borderline de personalidade ou esquizofrenia. Exames laboratoriais, neuroimagem e avaliação neurológica são frequentemente necessários para descartar causas orgânicas. Além disso, a colaboração com familiares ou pessoas próximas pode fornecer informações sobre lacunas de memória ou mudanças comportamentais que o paciente pode não relatar devido à amnésia dissociativa.

Fatores culturais também desempenham um papel crucial. Em algumas culturas, experiências dissociativas, como estados de transe, podem ser normativas ou associadas a práticas religiosas, exigindo do clínico uma sensibilidade cultural para diferenciar o patológico do culturalmente aceito. Estudos transculturais, como os conduzidos pela Organização Mundial da Saúde, destacam que a expressão de sintomas dissociativos varia globalmente, impactando a identificação e o diagnóstico.

A abordagem diagnóstica deve ser longitudinal, já que os sintomas dissociativos podem flutuar ou emergir em resposta a estressores. O uso de diários ou registros pelo paciente pode ajudar a documentar episódios de despersonalização, amnésia ou alternância de identidades. Além disso, a validação dos sintomas pelo clínico é essencial para estabelecer confiança, especialmente em pacientes com histórico de trauma, que podem apresentar relutância em compartilhar experiências.

O diagnóstico de transtornos dissociativos exige uma abordagem integrativa que combine anamnese detalhada, instrumentos validados, exclusão de causas orgânicas e consideração de fatores contextuais e culturais. Com respaldo em diretrizes do DSM-5 e na literatura científica, essa estratégia assegura maior precisão diagnóstica, promovendo um manejo adequado e melhores desfechos para o paciente.

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