Transtorno de Pica

 Transtorno de Pica


De acordo com o DSM-5, o Transtorno de Pica é definido pela ingestão recorrente de substâncias não alimentares, como terra, papel, cabelo ou metal, por pelo menos um mês, em um contexto inadequado ao estágio de desenvolvimento do indivíduo. Os sintomas não devem ser explicados por práticas culturais ou condições médicas, e a prevalência é mais comum em crianças, mulheres grávidas e indivíduos com deficiências intelectuais, embora possa ocorrer em qualquer faixa etária. Estudos, como os publicados no Journal of Eating Disorders, estimam que a prevalência em crianças varia de 10% a 30% em populações específicas, como aquelas com transtornos do espectro autista (TEA) ou deficiência intelectual, enquanto em adultos é menos frequente, mas significativa em contextos de carências nutricionais ou transtornos psiquiátricos.

O diagnóstico começa com uma anamnese clínica detalhada, conduzida por um profissional de saúde mental, como psiquiatra ou psicólogo, ou por um clínico geral em casos iniciais. A entrevista deve explorar o tipo, frequência e contexto da ingestão de substâncias não alimentares, bem como o impacto funcional, como complicações gastrointestinais, intoxicações ou deficiências nutricionais. É fundamental investigar o histórico médico, psiquiátrico e psicossocial do paciente, incluindo estressores, traumas, condições de vida e antecedentes familiares. Relatos de cuidadores, familiares ou educadores são essenciais, especialmente em crianças ou indivíduos com dificuldades de comunicação, já que os pacientes podem minimizar ou ocultar o comportamento devido a vergonha ou desconhecimento de sua gravidade.

Instrumentos de rastreamento, como questionários estruturados baseados nos critérios do DSM-5, podem auxiliar na avaliação inicial, embora não existam escalas específicas amplamente validadas para o Pica. Ferramentas como o Child Behavior Checklist (CBCL) ou a Eating Disorder Inventory (EDI) podem ser adaptadas para identificar comportamentos atípicos relacionados à alimentação. A literatura científica destaca a importância de uma abordagem multidimensional, integrando dados clínicos com observações comportamentais e informações de terceiros.

A exclusão de causas orgânicas é um passo crítico no diagnóstico. Condições como anemia por deficiência de ferro, comum em mulheres grávidas com Pica (geofagia, por exemplo), ou outras carências nutricionais, como zinco, podem desencadear ou exacerbar o comportamento. Exames laboratoriais, incluindo hemograma completo, níveis de ferro, ferritina e outros micronutrientes, são indispensáveis. Além disso, complicações médicas, como obstrução intestinal, intoxicação por chumbo ou infecções parasitárias, devem ser investigadas por meio de exames de imagem, endoscopia ou testes parasitológicos, conforme necessário. Do ponto de vista psiquiátrico, o Pica frequentemente coexiste com TEA, TOC, esquizofrenia ou transtornos de ansiedade, exigindo uma avaliação cuidadosa para identificar comorbidades.

A perspectiva integrativa considera fatores psicossociais e culturais. Em algumas culturas, a ingestão de substâncias como argila é uma prática tradicional, especialmente em mulheres grávidas, e não deve ser confundida com Pica patológico. Estudos transculturais, como os conduzidos pela Organização Mundial da Saúde, enfatizam a necessidade de sensibilidade cultural para diferenciar práticas normativas de comportamentos disfuncionais. Além disso, fatores como pobreza, negligência ou estresse crônico podem contribuir para o surgimento do transtorno, especialmente em crianças.

O diagnóstico deve ser longitudinal, com monitoramento contínuo para avaliar a persistência dos sintomas e a resposta a intervenções. A colaboração com equipes multidisciplinares, incluindo nutricionistas, assistentes sociais e pediatras, é essencial para abordar as dimensões médicas, nutricionais e sociais do transtorno. A abordagem empática, com validação das experiências do paciente, facilita a adesão ao tratamento.

O diagnóstico do Transtorno de Pica requer uma abordagem integrativa que combine anamnese detalhada, instrumentos de rastreamento, exclusão de causas orgânicas e consideração de fatores culturais e psicossociais. Com respaldo em diretrizes do DSM-5 e na literatura científica, essa estratégia assegura maior precisão diagnóstica, promovendo intervenções eficazes e melhores desfechos para o paciente.

Comentários

Postagens mais visitadas