Gestão de Riscos, Controle de Qualidade e Programa de Garantia da Qualidade (PGQ)

 Gestão de Riscos, Controle de Qualidade e Programa de Garantia da Qualidade (PGQ)


A busca pela confiabilidade dos resultados e pela segurança do paciente no laboratório clínico é um objetivo complexo, alcançado por meio de uma estrutura integrada e sistemática. Esta estrutura assenta-se em três pilares fundamentais e inter-relacionados: a Gestão de Riscos, o Controle de Qualidade (QC) e o Programa de Garantia da Qualidade (PGQ). Compreender a sinergia entre esses elementos é essencial para a operação de um laboratório que não apenas cumpre normas, como a ABNT NBR ISO 15189, mas que verdadeiramente incorpora a cultura da qualidade.

O Programa de Garantia da Qualidade (PGQ) constitui o escopo mais amplo. Trata-se de um conjunto abrangente e sistemático de atividades planejadas, documentadas e implementadas para garantir que os processos do laboratório atendam consistentemente aos requisitos de qualidade. O PGQ é o guarda-chuva que cobre todas as fases do exame laboratorial pré-analítica, analítica e pós-analítica , incluindo gestão de documentos, treinamento de pessoal, manutenção de equipamentos, avaliação de fornecedores, satisfação do cliente e gestão de não conformidades. Seu objetivo é prevenir erros e assegurar a confiabilidade global do sistema.

Dentro deste macroprocesso do PGQ, o Controle de Qualidade (QC) atua como uma ferramenta operacional vital, focada especificamente na fase analítica. Sua função é monitorar a precisão e a exatidão dos procedimentos de dosagem, assegurando que os sistemas de medição (analisadores, kits reagentes) estejam funcionando dentro de parâmetros predefinidos de aceitação. Isso é realizado principalmente através da análise diária de materiais de controle (soros controle) com valores conhecidos. Os resultados obtidos são plotados em cartas de controle (como os gráficos de Levey-Jennings), permitindo a aplicação de regras de Westgard para detectar tendências, alertas ou erros aleatórios e sistemáticos. O QC é, portanto, uma atividade corretiva e de verificação em tempo real, essencial para a liberação confiável de resultados de pacientes.

Paralelamente e permeando todo o PGQ, a Gestão de Riscos introduz uma abordagem proativa e preventiva. Baseada em normas como a ISO 22367 e a ISO 31000, a gestão de riscos é um processo sistemático de identificação, análise, avaliação e controle de eventos potenciais que podem ameaçar a qualidade dos resultados e a segurança do paciente. Enquanto o QC atua sobre erros já manifestados na fase analítica, a gestão de riscos procura antecipar falhas em potencial em todos os processos. Técnicas como o Failure Mode and Effects Analysis (FMEA) são utilizadas para mapear processos, identificar modos de falha potenciais (e.g., troca de amostra, identificação errônea), suas causas e efeitos, permitindo a implementação de barreiras de controle antes que o erro ocorra. Por exemplo, a implementação de código de barras é uma ação de gestão de risco para mitigar o erro de identificação.

A inter-relação entre esses pilares é dinâmica e sinérgica. O PGQ fornece a estrutura dentro da qual o QC e a Gestão de Riscos operam. Os dados gerados pelo QC (e.g., aumento da variação de um controle) são uma valiosa fonte de informação para a Gestão de Riscos, sinalizando um potencial desvio no processo analítico que precisa ser investigado e controlado. Por sua vez, as atividades de Gestão de Riscos identificam vulnerabilidades que podem levar à revisão e ao fortalecimento dos protocolos de QC e de outros procedimentos do PGQ.

A excelência no laboratório clínico não é sustentada por ações isoladas. É o produto de um sistema integrado onde o Programa de Garantia da Qualidade estabelece o framework, o Controle de Qualidade vigia a performance analítica e a Gestão de Riscos atua de forma preventiva para minimizar ameaças. A implementação robusta desta tríade, guiada por evidências e normas técnicas, é o que transforma um laboratório de um mero produtor de dados em um parceiro confiável para a tomada de decisão clínica segura e eficaz.

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